A dependência é algo especialmente difícil, porque torna custoso o nosso tão almejado crescimento. Ela é terrível e pode ser paralisante. Junto dela, estão companhias desagradáveis, como o medo, a raiva, o ódio, a inveja, a tristeza e seus descendentes. Ela tem o poder de agregar obstáculos.
Por causa dela, talentos ficam escondidos. Ela é tão poderosa, que nos faz acreditar que “não conseguimos”, “não podemos”, “não sabemos” e até “não somos”. Muitos problemas resultam da dependência emocional. Resolvê-los demandam, em muitos casos, ajuda profissional. No entanto, algumas pessoas receiam buscar atendimento especializado, pois temem ficar dependentes do profissional.
Parece paradoxal que um trabalho que visa libertar de sofrimentos, vá produzir mais um sofrimento. Porque a dependência é um sofrimento. E a codependência também. Vale a pena buscar o caminho que favoreça a vida. Insistir em não procurar ajuda de alguém habilitado pode criar um labirinto que só faz gerar doenças. Além disso, afasta a pessoa cada vez mais do autoconhecimento e a mantém na superfície de si mesmo.
Buscar ou não ajuda profissional é uma escolha pessoal, e uma maneira de cuidar da própria vida. É importante reconhecer que somos seres dependentes desde sempre. Porém, em evolução, e quando adultos, temos poder de decisão e somos livres para fazermos nossas escolhas. A liberdade é o maior dom e a dependência o rouba e aprisiona.
Negar-se a solicitar ajuda, neste caso, convida-nos a refletir também sobre a humildade. Para isto, é suficiente lembrar que não se trata de ser acima ou abaixo de alguém, mas de estar numa posição de inter-relação. Quando prefere-se as dependências já conhecidas e causadoras de sofrimento argumentando receio de dependência profissional, faz-se necessário procurar e identificar as crenças limitantes que envolvem tal receio.
A questão maior não é ser dependente ou independente, mas conquistar seu lugar e favorecer uma interdependência. Esta sim, é a grande vitória de um processo de autoconhecimento: relacionar com o outro pelos valores pessoais, sair da dependência e não criar dependentes. Além disto, usufruir da liberdade com responsabilidade e ética. Isto só alcança quem não teme pedir ajuda e quem não se exalta de ser ajudante. Simplesmente porque todos precisamos de auxílio e em algum momento e de alguma forma somos ajudadores.
Odília Grilo – CRP04-3634 – Psicóloga
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