Na década de 90, aprendi a expressão The Bad News are Good News que, numa tradução livre, significa: “as más notícias são boas notícias”. O que mais se vende é a má notícia. Se querem audiência, ou melhor, vender notícias na televisão, nos jornais, nas revistas e nas rádios basta apresentar tragédias, furacões, acidentes de grandes proporções, tempestades, nevascas, grandes roubos, assaltos e mortes em alta escala. O mesmo acontece com situações complexas, fatos que não foram bem esclarecidos ou que estão no inconsciente das pessoas. Essas circunstâncias nos chamam muito a atenção.
Essa ideia de que notícias más são as notícias boas, me leva a ter um olhar bem mais crítico ao ver televisão, ouvir rádio, ler jornais e a acessar a internet. Assim, quando padre ainda recém-chegado a Borda da Mata (MG), querendo lançar um informativo paroquial, usei desse tino jornalístico. Fui ao livro de tombo daquela paróquia e publiquei a “História do Capeta da Borda”. A primeira edição do “Jornal Paroquial” acabou tendo três reimpressões. Foi um sucesso! Todos queriam saber sobre esta história. Era uma realidade que estava no inconsciente coletivo daquela cidade e região, como algo obscuro que se tornou uma boa notícia.
Recentemente, uma nova expressão vem ganhando espaço no mundo virtual: fake news (notícias falsas). A expressão significa todo tipo de conteúdo descontextualizado, informações manipuladas baseadas em teorias da conspiração, incorretas ou que as pessoas não gostam. São, por exemplo, notícias passadas veiculadas no presente, trazidas à tona por interesses inconfessáveis. Toda essa realidade passou-se a chamar fake News.
Fake News tem por objetivo denegrir pessoas ou deturpar um acontecimento, de modo que haja uma grande repercussão, influenciando, de maneira equivocada, a opinião pública. É a potencialização da fofoca pela comunicação rápida e irrestrita. Diariamente somos bombardeados por estas informações, principalmente por meio do aplicativo whatsApp. Um aplicativo que possibilita relacionamentos rápidos, com diálogos instantâneos, bem como contatos interpessoais, ligações afetivas, profissionais e lúdicas.
Em nosso meio paroquial, notícias, fotos e montagens circulam rapidamente em aplicativos fechados como o whatsApp. Muita desinformação sobre a nossa religião, a nossa fé, as nossas celebrações estão sendo propagadas sem o menor escrúpulo por nós mesmos. Um post patrocinado, um anúncio, um meme podem assumir a forma de um hiperlink, vídeo, imagem, website, hashtag, ou mesmo de uma palavra ou frase. Um bot (programa de computador fabricado para automatizar procedimentos, geralmente repetitivos) e o twitter, por exemplo, são usados para compartilhar quaisquer informações que, inúmeras vezes, também podem transmitir fofocas, calúnias, notícias falsas e também verdadeiras.
No entanto, essas correntes de notícias falsas estão entrando em nossos “novos areópagos”, sendo consumidas e divulgadas quando distribuídos para nossos contatos e grupos de whatsApp. Fake News é um uso que se faz das redes sociais, podendo ter várias conotações: postar uma notícia falsa seja ela sobre alguém ou um acontecimento, geralmente acompanhada por alguma razão ideológica. É evidente que há o risco do virtual subverter a ordem das relações, tornando-as ilusórias ou alienantes, mas não creio que essas realidades sejam necessariamente sinônimas. Penso que o virtual seja uma resposta para um novo estilo de vida, marcadamente urbano, em que as relações se dinamizam na mesma medida que a demanda do rápido e imediato se impõe. Não se trata de opção, mas de uma realidade inquestionável e muito próxima de todos os que vivem esse novo estilo de vida.
Nesse contexto, o cristão deve se posicionar eticamente diante da Fake News. Quando recebermos fotos, mensagens, links, memes etc, devemos verificar a origem, a veracidade e a idoneidade do fato, da mensagem, da notícia, do acontecimento, antes de reenviar para contatos e grupos. Afinal, necessitamos de tecnologias para bons relacionamentos e encontros saudáveis entre as pessoas.
O Papa Francisco fala constantemente do ideal de uma “cultura do encontro”, que desperte nas pessoas a dimensão da abertura do coração, da quebra do egoísmo e do cuidado. Assim, creio que o problema é o uso desses canais de comunicação de forma exclusivista, pois, como fruto da evolução tecnológica, tais ferramentas devem ser um instrumento que conduza para as verdadeiras relações humanas, baseadas no encontro.
Se as novas tecnologias possibilitam relações, o contato pessoal não pode ser dispensado como exorta o Papa Francisco: “Precisamos saber nos encontrar. Precisamos edificar, criar, construir, uma cultura do encontro. São tantos os desencontros… problemas na família, sempre! Problemas no bairro, problemas no trabalho, problemas em todas as partes. E os desencontros não ajudam […] a nos encontrarmos com os mais necessitados, ou seja, com aqueles que precisam mais do que nós. Com aqueles que estão passando por um mau momento, mais grave do que nós estamos passando. Sempre existe alguém em pior situação do que nós, hein? Sempre! Há sempre alguém” – (vídeo mensagem para os fiéis reunidos no Santuário de São Cayetano, em Buenos Aires, em 7 de agosto de 2013).
Assim, penso que, neste novo contexto de evangelização, ou seja, do evangelho em ação, com a ajuda dos aplicativos, necessitamos converter o fake news em bad News, com o foco em good News, ou seja: ter a clareza de que as falsas notícias são más notícias e que nosso foco deve ser as boas e verdadeiras notícias. Só assim será possível vivenciar a cultura do relacionamento e do encontro preconizada pelo papa Francisco.
Dom Edson Oriolo dos Santos
Bispo Auxiliar de Belo Horizonte