Estamos entre espadas e paredes. Entre trilhos certos e tranquilos (de onde não se pode ver o Céu) e veredas com escolhos que, no final, nos brindarão com uma paisagem capaz de fazer esquecer qualquer caminho mais difícil.
Estamos entre ventos e marés. De um lado sopra o que já passou e não deixou de ser nosso. De outro, sopra um convite para o futuro. De um lado, o mar tem a cor transparente de sempre e, de outro, vislumbra-se um azul que assusta.
Estamos entre aterragens e voos. De um lado, acenam-nos os nossos confortos ferrugentos e, de outro, acena-nos um par de asas novinho em folha.
Estamos entre um virar-de-página e um deixar o marcador-de-livros-onde-sempre esteve. De um lado cativa-nos o cheiro a livro novo e, de outro, a certeza do livro que nos embala e adormece.
Estamos entre o velho e o novo. De um lado mora o ano que passou (e não nos deixa só porque se inaugurou outro calendário) e, de outro, o ano novidade que queremos impor com uma força que não é nossa.
Estamos entre o ganhar-balanço e o andar para trás. De um lado a vontade de fazer diferente e de escrever uma nova história. De outro, a vontade de reler as páginas antigas que nos trouxeram ao capítulo onde estamos agora.
Estamos entre a paz e a guerra. De um lado do nosso Céu, uma pomba branca está poisada a olhar para nós. De outro, uma pena esvoaçante que sobrou de uma luta sem vencedores.
Estamos aqui. Onde sempre estivemos. Ou estivemos aqui e ali e voltámos, agora, aos lugares de onde nunca saímos.
Estamos os mesmos mas queremos convencer-nos do contrário. E ainda bem. Somos filhos de uma esperança acesa que nos promete mudanças e rumos novos. Somos sombras de uma luz maior que nos acende bondades. Somos, também, muito teimosos e bastante míopes. Nem sempre queremos ver o muito que já nos foi dado.
Ainda vamos a tempo de querer ver. De procurar. De ir atrás. De guardar as espadas de guerras antigas. De abraçar a mochila que a vida nos deu para levar.
Ainda vamos a tempo de querer tudo.
Ainda vais a tempo de querer o que for para ti.
Então, ficas ou voas?
Marta Arrais
iMissio