Todos os momentos que nos retiram das nossas rotinas parecem atropelar-nos. É como se uma pequenina tempestade nos mudasse os pontos cardeais e nos levasse para um caminho de novidade que nem sempre sabemos como receber ou guardar. Há qualquer coisa de estranho nos momentos que deviam ser de grande festa e de grande celebração. Na verdade, e já que estamos em tempo disso mesmo, também este tempo que agora vivemos (e nos arranca das nossas rotinas mais ou menos apaziguadoras) nos desinstala e desarruma quase demasiadamente. É muita coisa a acontecer ao mesmo tempo. Muitas pessoas. Muitos momentos que se assemelham pouco aos hábitos de cada dia. É essa diferença que nos desafia nestes dias que passam por nós. É por isso que nos sentimos pouco preparados para a correnteza de sentimentos que parecem rodopiar sobre as nossas cabeças. Atrevo-me a dizer que é absolutamente aceitável que assim seja. No entanto, a pergunta que queria deixar hoje foge ligeiramente deste tempo de ruído mais ou menos feliz. Depois do dia de hoje, o que é que fica? O que é que fizemos melhor do que no ano passado? De que forma conseguimos ser fiéis à nossa fé e às nossas raízes? Depois de nos levantarmos da mesa (mais ou menos cheia) o que é que assola o nosso coração? Que luz (mais ou menos pequenina) é que se acende debaixo da nossa pele? Que memórias nos habitam? Que pássaros se atrevem a voar nos nossos céus de dentro? Que promessas precisamos de fazer, ainda? Que mágoas precisam de ser deixadas para trás? O que é que fica em mim de cada um dos que deixaram o seu olhar poisar no meu?
Tantas perguntas difíceis. Mas, talvez, necessárias. Se estacionamos a nossa vida à beira destes momentos de festa que não condizem com a nossa vidinha de sempre, tem que valer a pena pensar sobre o que estamos a viver. Sobre como estamos a viver. Depois, quando for hora de voltar ao rodopio do dia-a-dia, havemos de regressar com menos pressa e, se tivermos sorte, com uma coragem acesa. Uma coragem capaz de responder a cada uma das nossas perguntas. Uma coragem que nos faça mudar tudo, se for preciso. Uma coragem que nos faça querer tudo como está, se for preciso.
Depois de tudo, para ti, o que é que fica?!
Marta Arrais
Professora com mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL)
Publicado em: iMISSIO