Tempos difíceis quando falar de Política é falar de prontuários, de casos de polícia. Tempos difíceis quando políticos e partidos chamam a polícia para fazer Política.
Chamam e falam de polícia, todos, como se fizessem Política. A Política se torna, assim, assunto de polícia.
Tempo muito difícil. Porque desafios como a violência, por exemplo, só serão enfrentados com ampla ação da sociedade. Portanto com a Política, não só com a polícia.
Tempo difícil quando tantos se rendem à avacalhação da Política. Da Política no seu sentido maior.
Sem a Política, no seu sentido pleno, uma sociedade não se entende, não se encontra. Quando Política e polícia se confundem no noticiário, no imaginário, algo deu errado.
Quando um país tem mais de 1 milhão de assassinatos em 30 anos, muito já deu errado. Muito errado quando se mata 50 mil a cada ano e a sociedade, e suas Mídias, debatem como se a Política fosse apenas um assunto de polícia.
Quando líderes e partidos se acusam de corrupção, e quase todos têm razão, algo está muito fora do lugar. Quando sociedade e Mídias discutem sobre quem rouba mais, e não se chega a um consenso, muito está fora do lugar.
Quando acusação de corrupção é rebatida com acusação de corrupção, e parece sobrar razão, é tempo de cuidado e de muita reflexão. Por onde se anda a conversa é a mesma: corrupção e corruptos. Estranho, ou muito revelador, é o silêncio quanto aos corruptores.
Não são muitas as hipóteses. Ou a corrupção tem mesmo essa dimensão ou, na ausência, na falência da Política se usa e se abusa do tema corrupção para fazer Política. E a história já ensinou mais de uma vez: esse caminho leva à escuridão.
Depois da catarse de junho nas ruas, a Política teve uma chance. Mas, responsabilidade de todos, nada mudou nas estruturas do fazer, do “pagar” a Política.
Se o que se diz, o que se ouve país afora é fato, é verdade, a responsabilidade não está restrita, vai muito além da Política, dos partidos e políticos.
O Brasil tem mais de 5.600 municípios, 26 estados e o DF. São mais de 73 mil políticos, renováveis a cada 2 ou 4 anos. Deles se diz o que se diz, mas, lembremos: eles não vieram de Marte. Os “políticos” brasileiros não brotaram do solo.
Um “Político” é um cidadão que, eventualmente, tem um mandato. Um mandato, ou um posto no serviço público, não são anteriores aos usos e costumes. Usos e costumes da sociedade precedem o mandato ou um cargo público.
A Política segue sendo assunto de polícia Brasil afora? “Político” é só isso que está nas manchetes, o que o senso comum brada nas ruas? Se isso é verdade, passou da hora do Brasil, dos brasileiros encararem… o espelho.
Bob Fernandes
Jornalista