As mudanças custam. Não há mudança nenhuma que não tenha o condão de nos deixar algum tipo de mossa ou marca.
Há mudanças boas, que nos melhoram os dias ou a vida no geral; e há mudanças péssimas, que nos deixam sem saber que rumo tomar. Que nos cortam as asas que achávamos que tínhamos. Que nos tiram o chão que achávamos que era nosso.
Ainda não sabemos lidar com o que nos está a acontecer neste momento. A mudança foi demasiado brusca e inesperada. Não conseguimos ter a certeza se estamos a viver uma espécie de sonho ou se nos retiraram, de vez, a capacidade de sonhar.
Ainda não sabemos o que nos está a acontecer. Ouvimos notícias, lemos artigos mais ou menos científicos e mais ou menos infundados e deambulamos, pé ante pé, num cenário que nunca conseguimos prever como possível.
Não sabemos lidar com isto porque ninguém nos ensinou. Ninguém nos prepara para vivermos presos, estando livres. Ninguém nos prepara para estar longe dos nossos nos momentos mais duros e difíceis, sendo (ainda assim) livres para correr para os seus braços. Os nossos carros estão à porta, mas não podemos ir longe. Os nossos pés estão de boa saúde, mas não podemos ir longe. As nossas roupas de todos os dias estão penduradas, mas não as vestimos. Os sapatos estão ali, mas já não os calçamos.
É como se a vida tivesse ficado permanentemente suspensa. Entre o que vemos e o que não vemos. Entre o que conhecemos e o que não sabemos que existe. Entre as nossas mãos e as mãos dos nossos, lá tão longe.
Ainda não sabemos lidar com isto, mas havemos de aprender. Não temos outra hipótese. Não nos é dada mais nenhuma alternativa.
Ainda não sabemos viver assim, mas havemos de aprender. E quando conseguirmos encontrar estratégias para lidar com tudo o que mudou na nossa vida, o mundo há-de erguer-se outra vez e, nas notícias, há-de falar-se das festas que fizemos. Das lágrimas de alegria que choramos. Dos abraços em que nos apertamos uns contra os outros. Da vida que nos hão-de deixar viver outra vez.
Marta Arrais | iMissio