CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2023
Na minha juventude, vivi um tempo marcado pela fecundidade na Igreja. Havia um entusiasmo muito grande pelas atividades eclesiais: Muitas vocações sacerdotais e religiosas. Ordens terceiras florescentes. Associações tais como Pia União das Filhas de Maria, Congregação Mariana, Vicentinos, adoração diurna e noturna na Igreja da Boa Viagem, Liga Católica, Juventude Operária Católica, Ação Católica. Foi o tempo do 36º Congresso Eucarístico Internacional. As paróquias eram muito vivas. Foi nesta ambiência de alegria que num grande encontro de jovens estudantes, no auditório da Secretaria de Saúde, foi colocado o problema da fome como sendo o drama do século 20. E não é que chegou o drama e o Brasil foi para o mapa da fome da ONU! O Brasil tão rico em recursos naturais. De quem é a culpa? Em primeiro lugar do governo que não tem políticas públicas que garantam alimentação permanente para todos; em segundo lugar a comunidade eclesial que não coloca em seus programas atividades de fraternidade e de partilha para os mais necessitados. Apenas algumas iniciativas pontuais e de pouco alcance; e em terceiro lugar a sociedade em geral que não tem uma cultura de solidariedade e prevalece a indiferença ou a ganância. Alguns dizem que os pobres são preguiçosos e não querem trabalhar. Se isso acontece, já houve uma séria reflexão sobre a situação? Quais são as causas? Sem egoísmo e com misericórdia podemos dar uma substancial cooperação para o Brasil sair do mapa da fome.
A teologia moral ensina-nos que a vida tem de ser preservada desde a sua concepção no ventre materno até o seu fim natural. A Igreja, que é mãe, vem em socorro daqueles que tem a sua vida ameaçada. A Igreja do Brasil conhecendo que chegou o terrível drama da fome, ameaçando 33milhões de irmãos nossos, tirando-lhes a felicidade de viver, imediatamente se organizou no sentido de eliminar, ou pelo menos amenizar o sofrimento pela fome. Para isso valeu-se da CF de 1975 para propor o tema “Repartir o pão”. Como flagelo da fome persistisse, a Igreja do Brasil volta a debruçar em 1985 com o tema: “Pão para quem tem fome”. E nesta mesma linha, a CF de 2023 volta a propor a reflexão sobre o tema “Fraternidade e fome” com o lema “Dai-lhes vós mesmo de comer”. Tudo isso é sinal de que a fome continua na sociedade.
Diante de tantos desafios não podemos cruzar os braços e permanecermos indiferentes. O Papa Francisco nos convoca a sermos uma Igreja em saída e criarmos uma cultura do encontro nas periferias existenciais e geográficas para socorrer os que padecem com a fome.
Pe. José Pedro Mol
Padre Emérito da Paróquia Santíssimo Sacramento
Taquaraçu de Minas