Em 1717, mais de 300 anos, a imagem tão enegrecida da Imaculada Conceição foi encontrada numa tentativa de apanhar peixes. Eram pobres pescadores. E Maria Santíssima se revelou, então, naquele dia, àqueles pobres pescadores; confirmando, assim, a opção preferencial de seu Filho Jesus pelos mais pobres. A partir daí, conta-se essa bonita história, difundindo-se essa bela devoção. Depois foi erigida uma capela em honra a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. É uma verdadeira intercessora por todos nós. A maior de todas; a mais genuína; a mais verdadeira intercessora.
Tomando a Palavra de Deus nesse dia de hoje e a temática deste mês de outubro, atrelado ao tema da novena “Como Maria, revestir-se da Palavra”; vemos que a Palavra precedeu Nossa Senhora; mas ela também se serviu da Palavra para que a Palavra pudesse fazer, antes de tudo nela, um milagre, operando assim o milagre da vida e a salvação de todos nós, através da entrega de seu Filho, Jesus.
A primeira leitura foi tomada do livro de Ester. Em Ester, essa jovem rainha judia, temos a figura daquela que intercedeu pelo seu povo que estava na iminência de ser exterminado pelo rei Assuero. Esse trecho bíblico foi introduzido na solenidade de Nossa Senhora Aparecida não porque Maria copia Ester, mas para dizer que, em Ester, vamos compreender o papel e a missão de Maria na vida da Igreja: uma verdadeira intercessora. O texto sagrado vai dizer que Ester se revestiu com vestes de rainha e foi colocar-se no vestíbulo interno do palácio real. Na iminência do extermínio de seu povo, ela só tinha duas armas: sua beleza e sua confiança em Deus. E ela se serviu dessas duas armas, as únicas que podia. O texto continua relatando que o rei se encantou com sua beleza e lhe propôs conceder até a metade do seu reino, se isso fosse preciso. Mas o rei se surpreendeu com o pedido dessa jovem judia que nada pediu para si, mas apenas para o seu povo. Nos lábios de Maria as mesmas palavras proferidas pela rainha Ester estão presentes: “Se ganhei as tuas graças e se for do teu agrado, concede-me a vida, eis o meu pedido; e a vida do meu povo, eis o meu desejo”.
O Evangelho fala da intercessão de Maria, da falta de fé e do desespero do mestre sala e daquele que é o mediador: Jesus Cristo. Estamos diante de um texto histórico, mas cujo autor sagrado traz também uma mensagem teológica para nós. A narrativa inicia-se com o relato de um casamento em Caná da Galiléia, onde Maria e Jesus estavam presentes. Onde está a Mãe, se faz presente o Filho. Nesse sentido, se elevamos nossa oração à Maria, temos a Jesus. Onde o Filho está presente, a Mãe também está. Quando oramos a Jesus, Maria também se faz presente.
O texto sagrado continua dizendo que vindo a faltar o vinho, a mãe de Jesus intercedeu por todos os convidados, por aquele momento, por aquela festa. Certamente o mestre sala, que era o dono da festa, estava desesperado, angustiado pela falta do vinho; sinal da alegria e do amor. Faltava vinho, faltava tudo. Acabava a alegria e todos podiam ir embora. O mestre sala é cada um de nós, que diante de um problema nos vemos sem saída, quase sempre em desespero. Estando na festa, Maria certamente percebeu essa aflição do dono da festa; o que a levou a dizer para seu Filho: “Eles não tem mais vinho!”. Traduzindo simbolicamente, poderíamos dizer: “Eles não tem mais alegria, nem mais amor”.
Diante dessa provocativa, Jesus responde à Maria chamando-a ‘Mulher’. O fato de não tratá-la por ‘Mãe’, mas sim ‘Mulher’, não é sinal de desmerecimento da mesma, mas sim de profundo respeito. Em hebraico, ‘Mulher’ significa ‘Senhora’. É um grande mistério a real motivação que levou Jesus a dizer: “A minha hora inda não chegou!”, mas já vemos aí a prefiguração do anúncio da Cruz, do momento final no qual Ele irá revelar todo o amor e, assim como o vinho que era símbolo do amor e da alegria; aquele vinho, na Cruz, seria recuperado definitivamente.
“Sua Mãe disse aos que estavam servindo: ‘Fazei o que Ele vos disser’. Por duas vezes percebemos a intercessão da Mãe de Jesus. O texto sagrado só se refere à Maria como Mãe de Jesus para acentuar que ela que é a verdadeira intercessora. “Eles não tem mais vinho!” e “Fazei tudo o que ele vos disser!”. Havia aí seis talhas de pedra destinadas à purificação dos judeus. Jesus ordena que os serventes encham as mesmas de água, retirem e levem ao mestre sala; àquele que está desesperado, àquele que se vê sem saída. Eles levaram e o milagre, naquele momento aconteceu, antes de tudo pela intercessão e pela sensibilidade de Maria Santíssima, Mãe de Jesus; depois pela confirmação do Filho, que atendeu ao apelo de sua mãe.
“O mestre sala experimentou a água que se havia transformado em vinho sem saber de onde vinha”. Por desconhecer a procedência do vinho, ele reconhece no noivo, e não em Jesus, a alegria que retorna para a festa. “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e depois, quando os convidados já estão embriagados, servem o vinho menos bom.” Essa é a lógica do pensamento humano. O mestre sala estava na condição de humano. “Mas tu guardaste o vinho melhor até agora”. Indiretamente é uma profissão de fé deste mestre sala, que também é cada um de nós leitores e serventes, que sabem do milagre iniciado pela intercessão de Maria.
Hoje, diante de nossas preocupações e dificuldades, Maria continua a repetir para seu Filho: “Eles não tem mais vinho!” Cada um de nós sabe o vinho que lhe falta para recuperar a alegria e resgatar o amor. E a nós ela vai dizer: “Fazei tudo o que Ele vos disser!”, reconhecendo o seu papel, mas sabendo que se não fosse sua intercessão o milagre não se operava.
Que nesta Solenidade, onde veneramos a Imaculada Conceição de Maria, sob o título de Nossa Senhora Aparecida, cada um deposite a sua confiança em Maria Santíssima. Somos totalmente dependentes de Deus. Mas reconhecemos que precisamos de alguém que nos ajude, pelas nossas misérias, a elevar nossos pedidos ao Senhor. Ela, Maria Santíssima, que nos carrega no colo e intercede por nós. Por meio de sua materna intercessão, Jesus sabe qual vinho nos falta; qual é a alegria que precisamos recuperar: se é a saúde, a confirmação de uma casa própria, o restabelecimento da família, o resgate de um trabalho ou de um relacionamento. Tudo isso se transformará da água para o vinho. Tudo isso deve ser colocado nas seis talhas que Jesus mandou providenciar. Talhas que para nós hoje são como o altar onde Maria gentilmente vai acolher todos os nossos pedidos e depositar nas talhas do altar do Senhor, para que pela sua poderosa intercessão o milagre aconteça. Por fim, agiremos sempre como este mestre sala: o milagre vai acontecendo na nossa vida aos poucos e nós não percebemos que ele vem pela intercessão de Maria e pela confirmação de Jesus da mesma maneira que os discípulos, ao verem o Cristo ressuscitado, ainda duvidaram da presença de Jesus.
Pe. Anderson Soares – Pároco