Domingo da Ressurreição
” De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura segundo a qual Ele devia ressuscitar dos mortos”. (Jo 20:9)
Irmãos e irmãs, o dia da ressurreição de Nosso Senhor é para nós, cristãos católicos, o dia mais importante da nossa fé. A Páscoa, como o Natal, é como se fosse o nascimento para nós. Normalmente os pais se lembram carinhosamente do nascimento do filho ou da filha, e da alegria daquele dia. A Páscoa ultrapassa essa alegria. “Este é o dia que o Senhor fez para nós! Alegremo-nos e nele exultemos.” Eu gostaria de iniciar essa reflexão retomando uma fala da Sequência Pascal. Essa sequência foi oficializada, foi redigida por um dos grandes padres da Igreja. Na verdade, um Bispo dos primeiros séculos, chamado Tertuliano. Ele diz depois de uma intensa oração pessoal; com certeza a experiência da Páscoa também, tomando o diálogo de Maria com os discípulos: “Ví Cristo ressuscitado, o túmulo abandonado. Os anjos da cor do sol, dobrado ao chão o lençol…”. Essa é a certeza da Páscoa.
O Evangelho de hoje, tomado do evangelista João, diz que no primeiro dia da semana – é o dia que nós estamos reunidos aqui hoje, domingo – Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro; e viu que a pedra havia sido retirada do túmulo. Chama a atenção que nesse texto sagrado não se fala que ela foi ungir o corpo de Jesus. Se retomarmos o evangelista Mateus e o evangelista Lucas, vai dizer que as mulheres foram ao túmulo ungir o corpo do Senhor. Aqui não dá esse registro de que ela fora ungir o corpo do Senhor, porque, para o evangelista João, Maria foi confirmar aquela fala de Jesus; se de fato ressuscitaria como havia anunciado. Nesse gesto de Maria de ir ao túmulo no primeiro dia da semana, bem de madrugada, também está a nossa atitude. Todos nós que estamos aqui agora, semanalmente saímos das nossas casas neste dia, o primeiro da semana, que é o mais importante para todos nós, e vamos à Igreja no desejo de confirmar que o Senhor ressuscitou de verdade.
Maria, ao chegar ao túmulo, vê a pedra rolada, mas não vê o corpo, confirmando aquilo que Jesus havia anunciado; que Ele ressuscitaria depois de três dias. O cristão católico precisa ter a consciência do valor do domingo. O fato de virmos aqui não é qualquer oração que nós fazemos, mas é uma confirmação da nossa fé, da tradição da fé apostólica. Quando vamos à missa todos os domingos nós temos essa oportunidade de reconhecer o Senhor ressuscitado. Interessante que o texto vai dizer que Maria logo ao ver que a pedra havia sido retirada, ela correu ao encontro dos discípulos. Como nós precisamos aprender esse gesto de Maria Madalena, de ter mais agilidade na nossa evangelização; no desejo de que as pessoas recebam o anúncio do Evangelho. O texto continua dizendo que ao encontrar os dois discípulos, eles acreditaram nas palavras da mulher e foram correndo até o túmulo. Este texto nos remete à fé dos primeiros discípulos; fé que foi sendo transmitida oralmente até que os evangelistas pudessem redigir esse dado de fé que chegou até nós.
O que aconteceu nunca poderia ser inventado. Mais de dois mil anos e nós estamos aqui para confirmar esta nossa fé, a certeza da ressurreição. “De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura segundo a qual Ele devia ressuscitar dos mortos”. Antes disso o texto sagrado vai dizer que o discípulo que Jesus amava entrou, viu e acreditou. Valorizemos o domingo. O fato de Maria ter ido ao sepulcro vai dizer que ela também foi com coragem, pois era de madrugada, ela foi na esperança de encontrar algo muito maior do que a escuridão, do que um cadáver. De fato, olhando para frente, ela se deparou com uma esperança e a maior de todas. Essa é a mensagem da Páscoa.
A primeira leitura de hoje, tomada dos Atos dos Apóstolos, vai dizer que estando na casa de um centurião chamado Cornélio, que era pagão, o apóstolo Pedro proferiu um discurso, no qual elenca três passos da fé cristã: Jesus foi um homem que passou fazendo o bem, mas que essa atitude de Jesus gerou uma grande insatisfação de muitos; por isso o condenaram e o mataram, entregando-o à morte e morte de cruz. Mas Deus não deixou o seu Filho a mercê da morte e o ressuscitou no terceiro dia. Por fim vem a consideração mais importante do apóstolo Pedro: A partir deste fato, todos nós cristãos precisamos ser testemunhas daquilo que aconteceu com Jesus. A fé das futuras gerações dependerá da nossa fé. Uma fé pura, genuína, que não se deixa contaminar por tendências, que não é particularizada, mas uma fé que parte da colegialidade, do testemunho de uma fonte fidedigna, antes de tudo desses que conviveram com Jesus e transmitiram a mensagem de fé. É preciso, então, olhar para frente.
Na segunda leitura, tomada da carta de Paulo aos Colossenses, o apóstolo vai dizer: “Se nós ressuscitamos com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus”. A Páscoa tem que produzir em nós algo novo. Olhando a nossa vida, devemos contrapô-la à mensagem de Cristo. Precisamos nos esforçar para alcançar aquilo que é de Cristo, e não colocar nossas esperanças naquilo que é do mundo. Tudo aquilo que era velho já passou, vai dizer o apóstolo Paulo. É preciso, então, procurar, irmãos e irmãs, algo que nos remeta a Cristo Jesus, olhando as nossas atitudes, examinando a nossa consciência e deixando de lado aquilo que nos impede de experimentar, de fato, o Senhor ressuscitado. Que a nossa vida seja uma entrega às propostas de Deus e não às nossas vontades. Que a ressurreição de Cristo ressuscite também em nós o desejo de uma retidão, de um caminho que nos leve e nos aponte as coisas de Deus. Que a ressurreição de Cristo possa sepultar em nós o homem velho e faça renascer em nós o desejo de deixar para trás aquilo que não nos satisfaz e buscar aquilo que o Senhor quer para todos nós.
Desejo a todos vocês uma feliz e abençoada Páscoa. Que o Senhor ressuscitado possa, de fato, ressuscitar na vida de cada um de nós.
Pe. Anderson Soares – Pároco
Domingo da Ressurreição