Um convite a permanecer em Cristo
Irmãos e irmãs, hoje estamos celebrando o 5º Domingo da Páscoa. Neste final de semana, em especial, o Evangelho e as leituras nos falam sobre a permanência em Jesus.
Na primeira leitura, tomada dos Atos dos Apóstolos (At 9, 26-31), vimos que o apóstolo Paulo, que anteriormente se chamava Saulo, depois que teve a experiência no caminho de Damasco com o Senhor ressuscitado, ficou por algum tempo confinado e depois teve a coragem de se arriscar e se dirigir para Jerusalém, onde já havia ceifado a vida de muitos irmãos de fé.
O texto sagrado continua dizendo que o apóstolo Paulo chegou a Jerusalém procurando juntar-se aos demais, mas todos desconfiavam dele, pois a sua vida anterior foi uma vida de perseguição. Apenas um dos apóstolos, Barnabé, teve a sensibilidade de acolhê-lo e se estabeleceu como um intermediário entre Saulo e os demais apóstolos, dizendo que ele anteriormente havia sido um perseguidor, mas que agora era preciso acreditar na sua conversão, uma vez que Saulo demonstrava estar convertido e conquistado para Cristo Jesus.
A leitura é muito interessante, pois, na sequência do texto se diz que os apóstolos deram crédito às palavras de Barnabé e, a partir deste momento, o apóstolo Saulo se uniu aos demais e foram pregar o Evangelho. É importante, irmãos e irmãs, perceber quando isso acontece nas nossas comunidades. Há geralmente uma enorme desconfiança com relação às pessoas que querem se aproximar da comunidade depois de uma vida totalmente contrária aos valores cristãos. É necessário prudência, mas nunca devemos deixar de acolher essas pessoas.
Uma vez que o apóstolo Saulo fora chamado pelo Senhor, era muito perigoso para os apóstolos fazerem resistência. Aqui podemos lembrar a passagem de Gamaliel (At 5, 34-39), quando ele, reunindo todo o Sinédrio durante o julgamento dos apóstolos, fez uma longa reflexão exortando os demais a agir com prudência, citando alguns exemplos anteriores semelhantes. Ele encerra sua fala alertando os demais para que tomem cuidado para não se oporem à vontade do Senhor. De fato, eles ouviram o parecer de Gamaliel e desistiram de condenar os apóstolos.
O que Barnabé diz hoje para os demais irmãos é a mesma coisa, pedindo-lhes prudência e cuidado, pois aquele homem poderia ser um verdadeiro instrumento de Deus ao qual estavam impondo resistência. O texto sagrado continua dizendo que o apóstolo Paulo foi para Cesaréia, e a Igreja vivia em paz em toda a Judéia, Galiléia e Samaria, e ali progredia e se consolidava no temor do Senhor e crescia em número de adeptos ao Senhor Jesus.
Toda a Europa é grata ao apóstolo Paulo, pois foi a partir da pregação dele que todo o continente foi evangelizado. Se não fosse por ele, certamente a fé estaria muito comprometida. Nesse sentido, tomemos cuidado para não nos opor àquelas pessoas que, mesmo com o coração despedaçado, mas sincero, se aproximam da comunidade decididas a serem seguidoras de Jesus. A palavra do simples tem muito mais unção do que a de um letrado. Corremos o risco de descartar ou menosprezar aqueles que são queridos por Jesus, os mais simples e frágeis. O próprio Jesus disse: “Eu te agradeço, Pai, porque escondeste estas coisas dos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25).
Na segunda leitura, tomada da primeira carta de São João (1 Jo 3, 18-24), o apóstolo diz qual é o critério para sabermos se, de fato, estamos diante da verdade: “Se o nosso coração não nos acusa, nós temos confiança diante de Deus”. No entanto, com isso o apóstolo João não quer dizer que se o nosso coração estiver em paz é porque sejamos justos. Na sequência, ele apresenta o critério para discernirmos: Quem diz que guarda os mandamentos, mas não permanece; não pode amar a Deus. Continuando, ele vai dizer que o mandamento de Deus é que creiamos no nome do seu Filho e nos amemos uns aos outros de acordo com o mandamento que ele nos deu. Nesse sentido, se alguém diz que ama a Deus, mas não é capaz de traduzir isso em obras; então só fica na falácia.
O Papa Francisco nesta semana promulgou dois documentos: um motu próprio – acabando com os privilégios dos Arcebispos, Cardeais, e demais membros do clero; onde na justiça comum, todos se tornam uma comunidade de iguais – e proferiu um discurso na Casa Santa Marta falando sobre a carta do apóstolo João – Aquele que diz “Senhor, Senhor”, que dobra os joelhos e estende a mão por meio de palavras, mas não comunga com o irmão; este é um hipócrita. Uma pessoa que age desse modo não consegue irradiar a luz de Cristo ressuscitado. O Papa conclui dizendo que é visível o comportamento daqueles que amam verdadeiramente ao Senhor com o coração e aqueles que o amam apenas com palavras.
No Evangelho (Jo 15, 1-8), Jesus fala que o ideal é permanecermos ligados a ele. No texto sagrado vemos a relação da videira com os ramos: “Eu sou a Videira verdadeira, e vós sois os ramos”. O Antigo testamento fala que Israel era a vinha do Senhor, mas que começou a produzir maus frutos, de modo que o Senhor retirou essa videira e plantou outra de forma definitiva através da cruz de Cristo, para que através dele cada um de nós pudesse dar bons frutos.
Concluindo. Aquele que é justo, aquele que ama, aquele que perdoa e aquele que é caridoso; todos esses permanecem unidos a Cristo. Se nós produzimos uvas amargas, então estaremos separados do tronco principal, que é Cristo. Assim, produziremos apenas folhas, e folhas secas, que irão murchar, pois estarão desligadas do tronco. Que nossa vida cada dia seja ligada a Cristo Jesus. Tudo que fizermos tem que estar ligado a Cristo Jesus, desde o nosso amanhecer.
Pe. Anderson Soares – Pároco