Santuário Arquidiocesano
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Não sejas incrédulo!

O apelo aos cristãos é para que conservem e perseverem na genuína fé em Jesus Cristo.

Por Tânia da Silva Mayer*

“Não sejas incrédulo, acredita” é a advertência que o Senhor Ressuscitado faz a Tomé, duvidoso do testemunho da comunidade que havia estado com o Senhor e recebido dele o dom do Espírito. Ao testemunho da comunidade de fé reunida, “Vimos o Senhor”, Tomé é categórico: “Se não vir em suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei!” (Jo 20,25). Mas ao encontrar-se com o Ressuscitado, ele é advertido de que são felizes as pessoas que acreditam sem uma comprovação material, isto é, aquelas que creem através dos tempos, sem ter convivido e podido ver as ações e ouvir as palavras de Jesus. Felizes são os que creem por causa do testemunho de homens e mulheres de fé de todas as épocas, testemunho de que o Senhor é vivo entre nós e que a sua Vida Nova nos inclui a todos e todas.

Isto é o que recordamos ontem, ao celebrarmos o Mistério Pascal de Jesus na esteira da experiência de um de seus seguidores, Tomé. Mas esta semana começou com um louvor à fé, ou como uma exortação à fé. O apelo aos cristãos e as cristãs é para que conservem e perseverem na genuína fé em Jesus Cristo, o Crucificado-Ressuscitado. Precisamente, a liturgia ofereceu aos fiéis a possibilidade de revisitar, no último domingo, as narrativas onde Pedro e Paulo são qualificados testemunhas de uma fé com pretensões universais. É da boca de Pedro que sai uma profissão esclarecida a respeito da pessoa de Jesus Cristo, contrária àquela das multidões e contrária a de alguns dos discípulos de Jesus. À pergunta do Mestre, Pedro afirma sem titubear, “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!” (Mt 16,16). É por isso que ele se tornou a pedra fundamental, ao redor da qual a comunidade cristã pode retornar sempre e outra vez ao específico da genuína fé que a mantém unida ao Senhor.

Por sua vez, Paulo é outro guardador da fé que, em vias de completar a corrida da vida e alcançar a glória prometida aos fiéis seguidores, compreende o serviço prestado por ele na divulgação do Evangelho entre às Gentes, os pagãos. No entanto, também sabe que tudo o que fez foi graças ao auxílio de Deus e à força dele. Por isso, ao redor de Paulo, a comunidade cristã se reencontra com a paixão pelo anúncio do Evangelho, conclamando pessoas e povos ao seguimento daquele que nos oferece a libertação verdadeira, porque é quem nos abre o horizonte de uma vida plena. Desse modo, os cristãos e as cristãs são convidados à constância da fé no Crucificado-Ressuscitado, não só pelas palavras de Pedro e Paulo, mas também pelo testemunho de vida que ofereceram à comunidade cristã, ambos mártires pelo Evangelho, cujo a tradição preservou ao longo das épocas.

Na liturgia de hoje continuamos sendo provocados em nossa fé em Jesus. Em alto mar, os discípulos são confrontados por uma tempestade que revolta as águas e os apavora de medo. A Jesus que dorme, acordam-no e pedem: “Senhor, salva-nos, nós perecemos!” (Mt 8,25), ao que Jesus responde em uma pergunta-denúncia: “Por que este medo, gente de pouca fé?”. Desta cena, aprendemos que mesmo na companhia de Jesus, no seguimento a ele haveremos de passar por muitas dificuldades. Muitos serão os obstáculos e os desafios que haveremos de superar. A ideia de uma paz e tranquilidade no seguimento de Jesus é falsa. Os discípulos e as discípulas não estão isentos às perseguições e sofrimentos, mas devem insistir na fé, sabedores de que Jesus Cristo segue ao lado, como irmão e amigo.

Como se pode ver, a fé dos seguidores e seguidoras de Jesus precisa ser uma fé esclarecida, pois só assim superará a fraqueza diante das primeiras dificuldades e a incredulidade, quanto mais distantes ficamos do Nazareno, de suas obras e palavras. No processo de esclarecimento da fé, a comunidade dos discípulos e das discípulas participa de maneira fundamental: ela não só faz memória da pessoa de Jesus por meio das palavras e assertivas que afirmam quem ele é, como, também, por meio do testemunho que oferece sobre ele, através da sua postura no mundo e diante das pessoas, sobretudo as que se encontram à margem do caminho. A fé em Jesus corre seríssimos riscos quando essa memória por meio da pregação, da catequese, da liturgia e da postura diante da vida e das pessoas não é mais visível no testemunho das igrejas – e de seus membros – que se reivindicam cristãs. A leitura atenta da Escritura e a partilha da vida com aqueles que se esforçam no seguimento vai sustentado o discipulado na noite escura da fé naquele que é o Mestre de nossas vidas.

*Tânia da Silva Mayer é mestra e bacharela em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE); graduanda em Letras pela UFMG. Escreve às terças-feiras. E-mail: taniamayer.palavra@gmail.com.

Fonte: http://domtotal.com/noticia/1167823/2017/07/nao-sejas-incredulo/