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[Artigo] Viver uma espiritualidade cristã – Neuza Silveira

O ser humano é um grande sinal de Deus, não só pela maravilha do seu corpo e do seu espírito. “Deus criou o homem à sua imagem e semelhança” (Gn 1,27). Deus o criou e o colocou no mundo. E nesse mundo, todos nós somos chamados a exercer a missão que nos é dada, possibilitando o desenvolvimento de nossa vocação, aproveitando o tempo que nos é dado aqui na terra para bem relacionarmos uns com os outros.

Aqui, cada um tem o seu tempo. Uns chegam e outros vão. Vivemos de amor, memórias e esperanças. Enquanto estamos aqui, a missão é revelar Deus de modo especial. É através do amor humano que entendemos o amor de Deus. Uma profunda experiência de amor entre as pessoas é uma experiência de Deus. “Onde há amor e caridade, Deus aí está”, cantamos tantas vezes. E como é verdade! Mas, muitas vezes, não nos lembramos disto. Uma grande amizade é uma verdadeira experiência de Deus. O amor do casal também. Uma criança que não recebe amor e carinho dos pais não entenderá o amor de Deus. Precisamos experimentar o amor para saber o que é. Para experimentar o amor de Deus, precisamos sentir o amor dos outros. Cada um de nós é sinal de Deus para o outro.

Deus se faz experimentar pelos sinais dos tempos

Dizemos que Deus se manifesta nos sinais dos tempos. Quais são estes sinais? São as tendências e movimentos da época. Mostram a mão de Deus, sua presença, seus apelos, suas advertências. Os sinais dos tempos, hoje, são, entre outros: a luta pela justiça, a promoção dos direitos humanos, a emancipação da mulher, etc. Nem sempre é fácil interpretar os sinais dos tempos, se são sinais de Deus ou não. Devemos ficar atentos e saber discernir. Deus pode falar através de pessoas que têm uma visão “profética” dos acontecimentos, através da Igreja, mas também através de pessoas iletradas.

Deus se revela através dos acontecimentos

Deus se revela na vida de cada um ou na vida de grupos e comunidades, através de acontecimentos: o nascimento de um filho, a morte de um ente querido, a luta para conseguir melhores condições de vida para o povo, e assim por diante. Na dor e na alegria, na luta e na renúncia, na convivência, sentimos, muitas vezes de modo especial, a presença de Deus. Ele está sempre presente.

Para discernir a presença de Deus nos acontecimentos, precisamos ter uma atitude crítica. Não podemos dizer, simplesmente, diante de tudo que acontece: “Deus quer”. Muitas vezes, os acontecimentos não são da vontade de Deus, mas são conseqüências dos nossos pecados, do nosso orgulho, do nosso egoísmo. Mesmo assim, Deus pode se manifestar através desses acontecimentos. Ele alerta, apela à conversão, à mudança de atitudes, se faz presente pela solidariedade das pessoas que procuram aliviar o sofrimento.

O sofrimento no mundo é uma das maiores dificuldades que se coloca a respeito do amor de Deus. Deus não causa o sofrimento, ele não intervém nas leis da natureza, mas ele está ao nosso lado para nos ajudar a suportar o sofrimento. Ele sofre conosco, nos dá sua força para encontrar um novo sentido na vida. Quantas pessoas podem testemunhar isto!

A Bíblia, um sinal de Deus para nós

O povo da Bíblia fez também sua experiência de Deus. Experimentou Deus nas forças da natureza, na beleza da criação. Experimentou Deus no próprio ser humano, imagem de Deus. Experimentou-o especialmente nos acontecimentos. Sua história é de libertação, de conquistas e guerras. Via a mão de Deus nisto. Teve suas leis como decretos vindo de Deus para orientação do seu povo. Escreveu tais experiências. Por isso, podemos dizer que a Bíblia é o livro que relata as experiências de Deus que teve aquele povo. Tinha os mesmos sinais como nós: natureza, pessoas, acontecimentos. Mas, soube ver em tudo isso a mão de Deus e escreveu esta descoberta em linguagem poética, em narrativas profundas, em orações e salmos…

Vamos rezar (Sl 19,1-5)

O céu anuncia a glória de Deus

E nos mostra aquilo que as suas mãos fizeram.

Cada dia fala dessa glória ao dia seguinte,

E cada noite repete isso à outra noite.

Não há discurso nem palavra, não se ouve nenhum som.

No entanto, a voz do céu se espalha pelo mundo inteiro

E suas palavras alcançam a terra toda.

Jesus – o grande sinal de Deus

Quando Jesus entrou na história deste povo, ele atraiu muitos por seu modo de ser, de falar, de agir. Aqueles que o seguiam exclamavam: “Este é, realmente, o Enviado de Deus, seu grande Profeta, seu Filho”. Eles fizeram uma experiência de Deus na pessoa de Jesus. Por isto podemos dizer que Jesus é o sinal de Deus por excelência. Cada ser humano é uma imagem de Deus, mas, com suas imperfeições e pecados, obscurece, muitas vezes, esta imagem. Porém, Jesus é a imagem perfeita de Deus, seu Pai. Os primeiros cristãos fizeram sua experiência de Deus em Jesus. Quando, mais tarde, foram escrever os Evangelhos, eles expressaram esta experiência.

A comunidade – sinal de Jesus

Jesus, depois da sua ressurreição, deixou um sinal: a comunidade dos seus seguidores. Não estando mais fisicamente entre nós, não sendo mais um sinal visível, a comunidade deve agora tornar Jesus visível através da sua vida de união, de amor, de solidariedade, de amor aos marginalizados, dos que não têm voz nem vez. É esta a missão da Igreja: Ser sinal sensível de Jesus, hoje.

Jesus, ao ressuscitar e voltar para o Pai, deixou para nós essa possibilidade. Assim, nossa ressurreição é garantia dada por Jesus. Ele morreu por todos, pelos santos e pelos pecadores. O amor de Cristo é derramado em nossos corações para que tenhamos fé. Também, após nossa passagem por aqui, ressuscitaremos. Somos chamados a estar atentos, evocando sempre o coração das pessoas para viver o amor na esperança de renovar a nossa fé na ressurreição.

Neuza Silveira de Souza.

Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.