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[Artigo] A Bíblia nas mãos dos catequistas evangelizadores – Neuza Silveira

Na Palavra de Deus acolhemos a força profética do Espírito

Estamos finalizando o mês de setembro. Um mês que traz a alegria da primavera com seu perfume e flores coloridas que enfeitam nossos jardins. Também, neste mês, a Igreja celebra o mês da Bíblia, que nos oferecendo temas que retratam nossa realidade e nos convida à reflexão.

Este ano a Igreja nos convoca para refletirmos sobre as profecias do profeta Ezequiel, com o lema “Porei em vós o meu Espírito e vivereis!” (Ez 37,14).

A escolha do livro teve como objetivo a preparação para o ano santo em 2025, que terá como tema a “esperança”. Nesse sentido o livro de Ezequiel tem tudo a ver com este momento de preparação, pois suas profecias foram as luzes de esperanças lançadas à comunidade judaica, naquele tempo, ajudando-a a sobreviver ao momento do Exílio e a não perder a esperança de retorno à terra prometida.

Assim, também, suas profecias iluminam nossa realidade, traz esperanças para sobrevivermos em tempos de conflitos e esquecimento de Deus.

Aqui, assim como no tempo de Ezequiel, a realidade religiosa é sincrética: várias crenças, várias formas de pensar Deus, mas não se perde a certeza de que Deus se faz presente em todos os momentos, nunca nos abandonam e o Espírito está sempre em nós, iluminando nossos caminhos.

A Bíblia é assim: um livro da caminhada do povo de Deus. Ela se encontra no nível de sua aplicação na prática da vida. Ela é semente que deve ser espalhada no meio do chão da nossa realidade. Sua flor, ou seja, seu sentido aparece quando a Palavra plantada no chão tiver condições de germinar e produzir seu fruto. Então, a Bíblia é fruto da caminhada de um povo. Um povo que quis deixar registradas suas experiências de vida.

Um dos aspectos teológicos de Ezequiel é a experiencia que o profeta faz da ‘glória de Deus”. Para Ezequiel, essa glória de Deus encontra-se nas esferas celestes e terrestres, dado que habita nos céus, no Templo e na cidade de Jerusalém. Esta experiência de Ezequiel nos ajuda a refletir a presença de Deus no meio de nós. E para além dos Céus, da terra e do Templo, também Deus está em nós, gravado em nosso coração, pelo nosso batismo.

A revelação divina, encontrada na Bíblia, manda escutar a Voz do Povo, para que possamos descobrir o que Deus nos tem a dizer. Suas palavras nos mostram exigências que moldam nosso modo de vida; é uma forma de nos dirigir para o caminho certo, sem nos tirar o livre arbítrio. Nós fazemos nossas escolhas.

Da mesma forma que nos livros do Antigo Testamento, a Palavra de Deus chegou a Abraão, a Moisés, aos profetas. Palavras de nimo e de esperança. Palavras de Vida. Palavras de Aliança e de Amizade. Palavra que prepara o maior acontecimento de todos os tempos: Jesus Cristo, assim também a Palavra de Deus, através de seus escritos, chega até nós. Esse Deus desejou se dar a conhecer a nós e se deu fazendo-se um de nós, nascendo do útero de uma mulher, crescendo no meio do povo e, junto com o povo, ajudando-os a conhecer o Pai.

À medida que vamos conhecendo esse livro, a Bíblia, sua palavra vai crescendo no meio de nós, no silêncio, de forma gratuita e assim, aquele que coloca a Bíblia no cotidiano de sua vida colhe o fruto e se torna depositário da revelação divina, fruto este que deve continuar sendo espalhado, plantado, partilhado.

Muitas pessoas contribuíram para que esta palavra chegasse até nós: homens, mulheres, jovens, idosos, pais, mães, agricultores, pescadores, sacerdotes, reis, profetas. A preocupação dos que escreveram não foi contar uma história, mas recuperar a memória, a identidade. Seus escritos trazem uma grande riqueza de experiências que contribuem para manter viva a fé no Deus que propõe justiça, fraternidade, amor e fidelidade.

No Novo Testamento, somos convidados a nos colocarmos no seguimento de Jesus Cristo. Toda a história de Deus com Israel tem importância para nós cristãos, uma vez que Deus se revela nela. Na revelação do projeto de Deus, a Ressurreição foi o selo que Deus colocou sobre a vida e a morte de Jesus, dizendo que o modo como ele viveu é a proposta de Deus para todas as pessoas.

A Igreja, ao nos convocar para a reflexão sobre o livro de Ezequiel, espera de nós uma renovação de nossas esperanças e que sejamos perseverantes na fé e no seguimento a Jesus Cristo. Que assim como Ezequiel, sejamos capazes de “comer” a Palavra de Deus, deixá-la entrar em nossas entranhas e nos transformar em pessoas novas, cheias de esperança.

Neuza Silveira de Souza.

Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de Belo Horizonte.