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Ano Nacional do Laicato: possibilidades ou desafios?

O grande chamamento é para que cada diocese no país elabore um Plano de Formação para o Laicato que contemple formação básica para todas as mulheres e homens que exerçam um serviço na Igreja ou na sociedade; formação teológica-pastoral para as lideranças; e formações específicas, como Escolas de Fé e Política para Cristãos Leigos e Leigas que atuem em Conselhos, Grupos de Acompanhamento ao Legislativo, movimentos sociais e partidos político, escreve Daniel Seidel,  50 anos, mestre em Ciência Política pela UnB, membro da CJP-DF e da Comissão Brasileira Justiça e Paz e integra a Comissão Especial da CNBB para o Ano do Laicato.

Eis o artigo.

O Concílio não olha os leigos como se fossem membros de segunda categoria, a serviço da hierarquia e simples executores de ordens provenientes do alto, mas como discípulos de Cristo que, através do Batismo e sua inserção no mundo, são chamados a animar todo ambiente, atividade e relação humana segundo o espírito do Evangelho…. Ninguém melhor que os leigos pode desempenhar a tarefa essencial de inscrever a lei divina na vida da cidade terrena. (Papa Francisco na mensagem aos participantes da jornada de estudos sobre a Vocação e missão dos leigos, em 12/11/2015).

A CNBB promove no próximo domingo, dia 26 de novembro, a abertura do Ano Nacional do Laicato, em todas as Dioceses do Brasil, fruto da decisão tomada na Assembleia Geral Ordinária dos Bispos, realizada em abril de 2016.

O Ano Nacional do Laicato objetiva valorizar a presença e organização dos Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na sociedade, aprofundando sua identidade e missão, espiritualidade e vocação, estimulando o testemunho de Jesus Cristo e seu reino na sociedade. Tem como tema: Cristãos Leigos e Leigas, sujeitos na Igreja em saída, a serviço do Reino. E como Lema: Sal da Terra e Luz do Mundo.

Segundo dom Severino Clasen, bispo de Caçador (SC), presidente da Comissão Episcopal Especial para o Ano do Laicato, espera-se que este ano traga um legado para a Igreja missionária autêntica, com maior entusiasmo dos cristãos leigos e leigas na vida eclesial e também na busca da transformação da sociedade. Eu acredito que se conseguirmos estimular a participação e presença efetiva dos cristãos leigos na sociedade provocando que aconteça a justiça e a paz, será um grande legado, disse o bispo.

Para tanto, vislumbra-se como legados dessa iniciativa, por parte dos cristãos leigos e leigas: a participação efetiva nos conselhos de políticas públicas; criação e fortalecimento de iniciativas de acompanhamento dos poderes legislativos – municipais, estaduais e federal; mobilização para realização da Auditoria da Dívida Pública brasileira, visando aplicação dos recursos do Orçamento Federal em políticas públicas direcionadas aos mais empobrecidos e excluídos da sociedade.

Neste sentido, importa destacar o pronunciamento do Papa Francisco na Assembleia do Pontifício Conselho para os Leigos, em 17/06/2016, quando propôs, como horizonte de referência para o imediato futuro, o seguinte binômio: Igreja em saída e laicato em saída, lançando o olhar para os que se encontram distantes do nosso mundo, às tantas famílias em dificuldade e necessitadas de misericórdia, aos campos de apostolado ainda inexplorados, e aos numerosos leigos, que devem ser envolvidos e valorizados pelas instituições eclesiais. Na ocasião, o Santo Padre concluiu seu discurso dizendo: precisamos de leigos bem formados, animados pela fé cristã, que “sujem suas mãos” e não tenham medo de errar, mas que prossigam adiante. Precisamos de leigos com visão do futuro e não fechados nas pequenezas da vida, mas experientes e com novas visões apostólicas.

Essa proposta de enfoque na ação pastoral e social resgata a concepção de uma Igreja Povo de Deus, com inspiração no Concílio Vaticano II e a coloca diante dos desafios da missão atual que Papa Francisco tão bem traduziu de uma Igreja em Saída na exortação Alegria do Evangelho e na encíclica Laudato Si, sobre o cuidado com a Casa Comum.

É um necessário resgate da graça batismal em sua tripla missão: profética, real e sacerdotal. Significa uma relação de maior maturidade e autonomia dos batizados e batizadas não ordenadas frente ao desafio de fermentar o Reinado de Deus numa sociedade que despreza a vida, tanto humana como do conjunto da Natureza, em função do dinheiro e do lucro.

É também um desafio resgatar o protagonismo dos Cristãos Leigos e Leigas numa Igreja paroquial concentrada no poder hierárquico, na maioria dos casos, clerical. É um forte apelo à conversão. O desafio é resgatar o protagonismo das CEBs, com efetiva presença nas periferias das cidades e nas lutas empreendidas nos assentamentos, territórios dos Povos Indígenas e Comunidades tradicionais. Outro campo exigente são as Pastorais Sociais, capazes de responder às demandas, principalmente urbanas.

Dentre as proposições de legado do Ano Nacional do Laicato, a mais desafiadora e que exigirá o engajamento de todas as pessoas de boa vontade, é a realização da Auditoria da Dívida Pública do país. Prevista nas Disposições Transitórias da Constituição Federal de 1988, é tema interditado pela grande mídia brasileira e atinge o cerne da desigualdade social, visto que sangra quase metade do Orçamento Público federal para rolar uma dívida que enriquece os bancos e impõe pesadas restrições ao financiamento das políticas sociais.

Finalmente, os desafios não terminam por aí, o grande chamamento é para que cada diocese no país elabore um Plano de Formação para o Laicato que contemple formação básica para todas as mulheres e homens que exerçam um serviço na Igreja ou na sociedade; formação teológica-pastoral para as lideranças; e formações específicas, como Escolas de Fé e Política para Cristãos Leigos e Leigas que atuem em Conselhos, Grupos de Acompanhamento ao Legislativo, movimentos sociais e partidos políticos.

É uma agenda atraente para atuação desde a base, com a experiência e motivação para realizar novas aprendizagens e sínteses e, assim, provocar o protagonismo dos Cristãos Leigos e Leigas, apoiados pelos ministérios existentes na Igreja e seguir na mobilização da sociedade brasileira para o resgate da democracia rompida em 2016, apontando para uma nova utopia inspirada no Bem-Viver: é urgente construir unidade na construção de um novo Projeto Popular para o Brasil.