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A Catequese como processo de educação da fé – Neuza Silveira

Estudando Ezequiel, o profeta do Exílio, encontramos elementos que sempre fizeram e continuam fazendo parte da vida das pessoas. Iluminados pelo lema: “Porei em vós o meu espírito e vivereis” (Ez 37,14), somos transportados, mais uma vez, para a certeza de que o Espírito do Senhor nos conduz à redescoberta da esperança como caminho que dá sentido à vida e nos coloca no caminho de Deus.

Esse caminho inicia-se com o nosso batismo e com a realidade do cotidiano aprendemos que as catequeses oferecidas percorrem o caminho das orientações, desde os primórdios do cristianismo.

A catequese é vista com a finalidade de ajudar os homens a acreditarem que Jesus é o Filho de Deus, a fim de que, mediante a fé, tenham a vida em seu nome. Esta catequese passou por várias modalidades no decorrer dos séculos, sendo resgatada no século XX, pelo Papa Paulo VI, na IV Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, quando destacou-se o cristocentrismo, colocando o “mistério de Cristo” como centro. Assim, a catequese é chamada a desenvolver a inteligência do “mistério de Cristo” à luz da Palavra.

Podemos entender este ensinamento ao lermos em Ezequiel a ordem que ele recebe para comer o “rolo”. O que significa comer o rolo? Qual o significado do sabor doce desse rolo que o profeta comeu? Hoje, como podemos entender a Palavra de Deus que anunciada? Quais são as dificuldades que enfrentamos e como viver a profecia autentica, mesmo diante dos desafios.?

Ezequiel insiste em proclamar que Deus oferece uma nova oportunidade, fazendo um novo convite para começar uma nova vida, fazendo um novo convite para começar uma nova oportunidade, que assume sua responsabilidade e a culpa por não ter, antes, criado uma sociedade melhor, marcada pela justiça e fidelidade ao Senhor. Ele insiste em não permanecer no fatalismo, pois é possível romper a cadeia com o passado de infidelidade e reconstruir o futuro.

O sentido da nossa catequese é assim. Ela faz ecoar a Palavra de Deus nos quatro cantos do Universo. Ela vem de cima. A catequese, de fato, tem por objetivo escutar e fazer repercutir a Palavra de Deus. E é claro que não é só para crianças que a Palavra de Deus deve ecoar, mas para todos os integrantes da Igreja e para o mundo todo. Seu papel é ajudar a desenvolver o senso crítico diante da realidade da nossa sociedade, do nosso ambiente e formar cristãos para uma atitude e atuação evangélicas diante de situações e acontecimentos. Estas ações exigem do catequista ser um pedagogo para o anúncio da Boa Nova.

A catequese é continuada

A catequese apresenta características próprias e se desenvolvem no decorrer dos diversos períodos da vida da pessoa.

A idade e o desenvolvimento intelectual dos cristãos, o grau de maturidade eclesial e espiritual e muitas outras circunstâncias pessoais exigem que a catequese adote métodos muito diversos para poder alcançar a finalidade específica: a educação para a fé. “Tal variedade é também exigida, em um plano mais geral, pelo meio sócio-cultural em que a Igreja desenvolve a sua atividade catequética” (cf. CT nº 51). Vejamos:

Vida intrauterina – A família é a primeira responsável pela educação da fé, uma vez que a catequese tem início com a criança no ventre materno.

Na primeira infância – Depois do nascimento até os seis anos de idade, a criança precisa de alegria, afeição e segurança. Precisa também de se sentir protegida e esta proteção vem de seus pais que vão ajuda-la nas primeiras descobertas: de si mesma, das coisas e do seu corpo. Assim, elas já começam a receber dos pais e do meio ambiente familiar, elementos da catequese os quais não vão além de uma simples revelação do Pai Celeste que é bom e que ama muito todas as crianças. Dessa maneira, são orientadas a também amarem o Pai do céu. Pequenas orações lhes são ensinadas, constituindo o início de um diálogo amoroso com o Deus escondido.

As crianças – Quando já na idade de ir para a escola, ir à Igreja, ou seja, quando já se abrem para um círculo social maior, chega o momento de uma catequese destinada a introduzir as crianças de modo orgânico na caminhada da Igreja. As crianças são iniciadas em uma catequese didática, mas vivencial, uma vez que lhe são apresentados os mistérios principais da fé e a sua incidência na vida moral e religiosa. As crianças, nessa idade, têm como imagem de Deus, o Pai bom, santo e justo. É o Deus da criação e dos milagres.

Adolescentes – O traço mais característico da adolescência é a Puberdade. Nesse período ocorre o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e a aceleração do crescimento, levando-o ao início das funções reprodutivas. Chegada à adolescência, chega o momento da descoberta de si mesmo e do próprio mundo interior, tempo do desabrochar do amor e das alegrias. Mas também tempo das interrogações mais profundas, das indagações angustiadas e a catequese não poderá ignorar tais aspectos variáveis desse delicado tempo da vida. O papel da catequese nesta idade é o de levar o adolescente a uma revisão de sua própria vida. Apresentar Jesus Cristo como amigo, levando o adolescente à admiração e até mesmo à imitação do Cristo. Isto é fundamental para proporcionar a base para uma autêntica educação na fé.

Jovens – Chega o momento das adesões pessoais e das grandes decisões. Momento de assumir responsabilidade do seu destino. O bem e o mal, a graça e o pecado, a vida e a morte serão afrontadas no mais profundo deles mesmos, como categorias morais, mas também como opções fundamentais que devem assumir ou rejeitar. Nesse tempo a catequese assume uma importância considerável, porque é o momento em que o Evangelho poderá ser apresentado, compreendido e acolhido como algo capaz de dar sentido à vida. A catequese pode ajudar os jovens a se prepararem para os grandes compromissos cristãos da vida adulta.

Adultos – Uma das grandes preocupações, hoje, é também os adultos. Os novos interlocutores que entram no processo de formação e educação da fé. Esta é a principal forma da catequese, porque se dirige a pessoas que têm as maiores responsabilidades e a capacidade para viverem a mensagem cristã mais plenamente. Os adultos, quer sejam destinatários, quer sejam promotores da atividade catequética, são os que governam o mundo ao qual os jovens são chamados a viver e testemunhar sua fé. Portanto, a fé dos adultos deve ser continuamente esclarecida, estimulada e renovada, a fim de impregnar as realidades temporais pelas quais são responsáveis.

Catecúmenos – Estes são os adultos que ou não receberam uma catequese quando criança ou, embora a tenham recebido na sua infância, por algum motivo tenham se afastado dela e permanecem com uma fé infantil, ou ainda, não receberam uma catequese que os ajudassem a amadurecer na fé, ou mesmo nunca foram educados na sua fé e chegam à idade adulta, verdadeiros catecúmenos

O papel da catequese é se estender a todas as realidades e dimensões pessoais: acolher os migrantes, pessoas marginalizadas, pessoas que vivem em bairro distantes, periféricos, pessoas idosas, com deficiências, povos indígenas, ciganos, que vivenciam casamentos de segunda união, e até pessoas de outras religiões, mas que querem conhecer a doutrina da fé cristã.

Os adultos têm muito que dar aos jovens e as crianças em matéria de catequese, mas também deles podem receber muito pela catequese. Ninguém na Igreja de Jesus Cristo deveria sentir-se dispensado de receber a catequese para educação da fé

Neuza Silveira de Souza.

Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-catequético de Belo Horizonte.