São Pedro e São Paulo
Padre Thiago da Costa Silva Lopes

Mestrado em Filosofia Prática (2021-2023), pela Pontifícia Universidade Gregoriana, título: “O reino dos valores”: Um estudo sobre a fundamentação onto-axiológica da ética, segundo Nicolai Hartmann.
Graduação em Teologia (2014-2018), pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), com trabalho de graduação intitulado: “Da relação corpo-alma à mente-cérebro: a antropologia cristã e as novas antropologias”.
Graduação em Filosofia (2011-2013), também pela PUC Minas; trabalho: “Uma Análise Genealógica do Poder na Obra ‘Microfísica do Poder’, de Michel Foucault”.
Formador do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus (SACEJ), na comunidade de Filosofia.
Assistente Pastoral da Catedral Cristo Rei, bairro Juliana, BH.
Vigário Episcopal Para Ação Política da Arquidiocese de Belo Horizonte.
Professor da PUC Minas.
Comunidade São Pedro e São Paulo – Discipulado (Filosofia)
A Comunidade São Pedro e São Paulo, correspondente à etapa do Discipulado, é o espaço formativo em que os seminaristas da Arquidiocese de Belo Horizonte cursam o bacharelado em Filosofia, seja na modalidade ordinária, seja na de elenco mínimo, conforme as orientações da Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis – O Dom da Vocação Presbiteral (2016) e das Diretrizes para a Formação dos Presbíteros na Igreja no Brasil (CNBB, Doc. 110).
Nesta etapa, os candidatos ao sacerdócio diocesano são chamados a aprofundar sua experiência de seguimento de Jesus Cristo, consolidando a vida espiritual e a fé por meio do exercício da razão iluminada pela Revelação. É um tempo privilegiado de crescimento humano e intelectual, marcado pela síntese entre fé e razão e pela formação de uma consciência livre, madura e responsável diante de Deus, da Igreja e da sociedade.
1. Sentido teológico-formativo da etapa do Discipulado
A etapa do Discipulado tem como eixo central o seguimento de Cristo Mestre, que chama o seminarista a permanecer com Ele (cf. Mc 3,14) e a aprender de seu coração manso e humilde (cf. Mt 11,29). É, por excelência, o tempo do amadurecimento humano e vocacional, em que o discípulo cresce na amizade com Jesus e na configuração interior ao seu modo de ser e agir.
Inspirada no paradigma evangélico do discipulado, esta fase formativa visa consolidar as bases humanas e espirituais da vocação presbiteral. Segundo a Ratio Fundamentalis, “o tempo do discipulado é o tempo do aprofundamento da resposta ao chamado de Deus, mediante o crescimento na vida espiritual e na formação intelectual inicial” (RFIS, n. 64).
Assim, a Comunidade São Pedro e São Paulo se apresenta como ambiente fecundo de amadurecimento pessoal, de discernimento vocacional e de consolidação dos valores evangélicos que sustentarão toda a caminhada formativa.
2. Formação filosófica e integração entre fé e razão
A formação filosófica é a característica central desta etapa. Por meio do estudo rigoroso da filosofia, o seminarista é introduzido no exercício crítico da razão e na busca sincera da verdade, com vistas à formação de um pensamento sólido, coerente e aberto ao diálogo com a cultura contemporânea.
A filosofia, como “propedêutica à teologia” (Fides et Ratio, 62), auxilia o seminarista a compreender o ser humano, o mundo e o sentido da existência, favorecendo o desenvolvimento do espírito crítico e do discernimento racional da realidade.
Ao mesmo tempo, essa formação filosófica não se limita a uma dimensão intelectual abstrata: ela deve estar a serviço do crescimento espiritual e pastoral. Como recorda São João Paulo II, “a fé e a razão são como duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade” (Fides et Ratio, 1).
Na Comunidade do Discipulado, o estudo filosófico é, portanto, um caminho de elevação do espírito humano, que ilumina a fé, purifica o coração e educa a mente para o mistério de Deus. É um itinerário que conduz à sabedoria, unindo reflexão e contemplação.
3. Dimensão espiritual e vida de oração
A vida espiritual, nesta etapa, é marcada pelo cultivo de uma amizade pessoal e constante com Jesus Cristo, por meio da oração, da escuta da Palavra, da Eucaristia e da convivência fraterna.
O seminarista é chamado a integrar progressivamente sua vida de oração com o estudo e com a vida comunitária, amadurecendo na disciplina interior e na fidelidade aos exercícios espirituais. A espiritualidade do discípulo, enraizada no Evangelho, deve conduzi-lo a uma fé pensada, dialogante e coerente com o testemunho cristão.
A Ratio Fundamentalis ressalta que “o discípulo deve aprender a ser homem de oração e contemplação, capaz de escutar Deus e de discernir os sinais de sua presença na história” (RFIS, n. 68). Assim, a vida espiritual torna-se o eixo integrador da formação filosófica, favorecendo a unificação entre razão e fé, pensamento e vida, estudo e oração.
4. Dimensão humana e integração da personalidade
A formação humana, neste período, é considerada o “fundamento de toda a formação sacerdotal” (Pastores Dabo Vobis, 43). Trata-se de uma etapa de autoconhecimento, amadurecimento afetivo e desenvolvimento das virtudes humanas, que sustentam a vocação ao serviço pastoral.
Na convivência comunitária e no acompanhamento espiritual e psicológico, o seminarista aprende a reconhecer seus dons e limites, a ordenar suas emoções e afetos e a cultivar atitudes de empatia, diálogo e responsabilidade. Essa formação integral visa preparar o futuro presbítero para uma vida de comunhão, serviço e doação, conforme o modelo do Cristo Servo.
5. Inserção pastoral e discernimento vocacional
Durante o tempo do Discipulado, os seminaristas iniciam uma inserção pastoral específica e gradual em comunidades e organismos eclesiais da Arquidiocese. Essa experiência tem caráter formativo e discernente, permitindo que o candidato confronte sua vocação com a realidade concreta da vida eclesial e com os desafios pastorais do povo de Deus.
A pastoral, nesta etapa, não é apenas um campo de atuação, mas uma escola de aprendizado humano e espiritual. Ela fecunda a formação acadêmica e espiritual do seminarista, ajudando-o a compreender a missão presbiteral como serviço generoso e amoroso.
Segundo as Diretrizes para a Formação dos Presbíteros (CNBB, Doc. 110, n. 114), “a experiência pastoral, ainda em processo formativo, deve favorecer o amadurecimento do espírito de serviço, o senso eclesial e o amor pela Igreja”.
6. Vida comunitária e dimensão eclesial
A Comunidade São Pedro e São Paulo é um espaço de comunhão e corresponsabilidade, onde a fraternidade é vivida de modo simples, alegre e disciplinado. A convivência fraterna, marcada pela partilha e pelo diálogo, é parte integrante do processo formativo e expressão da comunhão eclesial que o seminarista é chamado a viver no futuro presbitério.
Nesse contexto, a comunidade torna-se verdadeiro laboratório de vida eclesial: lugar de escuta, perdão e serviço mútuo, que prepara o discípulo a viver o ministério ordenado em comunhão com o bispo, com os presbíteros e com todo o povo de Deus.
Referências Documentais
Concílio Vaticano II, Optatam Totius (Decreto sobre a formação sacerdotal), 1965.
São João Paulo II, Pastores Dabo Vobis (Exortação Apostólica sobre a formação dos sacerdotes), 1992.
Congregação para o Clero, Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis – O Dom da Vocação Presbiteral, 2016.
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Diretrizes para a Formação dos Presbíteros na Igreja no Brasil, Documento 110, 2019.
CNBB, Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil, Documento 93, 2001.
São João Paulo II, Fides et Ratio, 1998.
Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 2013.
Arquidiocese de Belo Horizonte, Diretrizes Arquidiocesanas para o Ministério Presbiteral e o Diaconato Permanente, 2020.
Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus (SACEJ), Itinerário Formativo – Etapa do Discipulado Filosofia, Arquidiocese de Belo Horizonte, 2022.