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Identidade, espiritualidade e missão do padre diocesano

A educação para a formação presbiteral inicial ilumina-se pela clareza e pela acolhida afetiva do sentido teológico da identidade, espiritualidade e missão do ministério presbiteral. À luz do Concílio Vaticano II, compreende-se que o sacerdócio ministerial existe em função do sacerdócio comum dos fiéis, a serviço da edificação do Corpo de Cristo e do testemunho do Reino de Deus no mundo (Presbyterorum Ordinis, 2).

Por isso, o sacerdote não é um delegado da comunidade nem um mero funcionário da Igreja, mas um verdadeiro dom para ela, pela unção do Espírito Santo e pela íntima configuração a Cristo Mestre e Bom Pastor. Cimentado nessa identidade, o presbítero, homem de oração, é desafiado existencial e cotidianamente a viver uma espiritualidade autêntica e integrada, sustentada no dom do celibato e enraizada na caridade pastoral (Pastores Dabo Vobis, 23). Esta espiritualidade é continuamente nutrida pela experiência pessoal de Deus e pela comunhão com os irmãos e irmãs na Igreja e na sociedade.

À imagem do Bom Pastor, o padre é chamado a ser homem de misericórdia e compaixão, próximo do povo e servidor de todos, particularmente dos pobres e sofredores. Sua ação missionária é sustentada pelo ardor de quem é verdadeiro discípulo missionário, apaixonado por Jesus Cristo e comprometido com o anúncio da Boa-Nova do Evangelho, conforme a orientação da Evangelii Gaudium (46).

O presbítero: dom a serviço da Igreja

Ao percorrer o caminho da formação presbiteral inicial, uma pergunta essencial se apresenta: quem é o presbítero que a Igreja Particular de Belo Horizonte espera como dom feliz e generoso para o exercício deste ministério? A resposta a essa interrogação ilumina a compreensão da identidade, espiritualidade e missão do presbítero, conforme o Presbyterorum Ordinis e as Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil (CNBB, Doc. 110).

A graça da ordenação sacerdotal consagra o presbítero para a missão de “gerar, nutrir, educar, organizar e levar à plenitude uma comunidade do Povo de Deus” (CNBB, Doc. 93, n. 61). Participando do único sacerdócio de Cristo — eterno mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5) —, o presbítero torna-se “um dom sagrado de Deus para o seu povo” (Doc. 93, n. 63).

Configurado a Cristo Bom Pastor, que acolhe, cuida e guia o Povo de Deus (Doc. 93, n. 68), o presbítero deve conhecer, com lucidez e constante atualização, a realidade em que vive e serve, para melhor exercer o pastoreio na rede de comunidades eclesiais. Fiel à tríplice dimensão identitária de discípulo missionário, especialista em relacionamento e mistagogo, ele conduz o Povo de Deus por caminhos de maturidade na fé e de experiência mística com o Senhor.

Além disso, o presbítero é corresponsável, com a colaboração da comunidade, pelo zelo do patrimônio sagrado, religioso e cultural — material e imaterial — da fé, como guardião e promotor da tradição viva da Igreja.

O presbítero discípulo-missionário

O presbítero, discípulo-missionário, é chamado a viver o seguimento de Jesus Cristo por meio de uma experiência autêntica de encontro pessoal com o Ressuscitado. Identifica-se com o Mestre e se torna obediente à sua Palavra, tornando-se “homem da Palavra e de palavra”, chamado a encarnar o Verbo em sua vida e ministério.

Intimamente unido à Palavra, por sua escuta e meditação diárias, o presbítero deve ser fiel mestre e guardião da doutrina dos apóstolos, ensinando com exatidão e, sobretudo, com testemunho de vida. Como ouvinte assíduo, é também anunciador apaixonado da Boa-Nova, encontrando na missão o sentido de sua realização pessoal e espiritual.

Movido pela alegria do Evangelho e pela “Igreja em saída” (Evangelii Gaudium, 46), o presbítero é enviado a ir ao encontro das periferias humanas e existenciais, servindo com total disponibilidade e ternura pastoral. Sua vida é sustentada por uma espiritualidade missionária, que nasce da contemplação do rosto do Bom Pastor, aquele que “levou até o extremo o amor pelos seus” (Jo 13,1).

O presbítero é discípulo missionário na medida em que conduz o Povo de Deus pela pregação da Palavra (2Tm 4,2), tornando-se profeta da esperança e testemunha da misericórdia. Em tudo, busca infundir confiança e proclamar as razões da esperança cristã, sustentado por uma vida de santidade e fidelidade pastoral.

O presbítero, especialista em relacionamento

O presbítero é, por natureza, homem de comunhão e relação. Sua missão nasce e se realiza no encontro fraterno, na partilha e no serviço. Dessa vida relacional floresce a promoção vocacional e o testemunho que suscita novas vocações ao ministério ordenado e à vida consagrada.

A comunhão sacramental e afetiva com o bispo é dimensão essencial de seu ministério, pois o presbítero age “cum cooperatione presbyterii”, em verdadeira communio sacramentalis, sustentáculo da unidade e fecundidade missionária da Igreja particular (Pastores Dabo Vobis, 74).

Essa comunhão se estende aos demais presbíteros, diáconos, ministros, leigos e leigas, e também à sociedade civil, como expressão concreta de serviço e diálogo. Assim, o presbítero é promotor da paz, ministro da reconciliação e defensor da dignidade humana e do cuidado com a casa comum (Laudato Si’).

Da arte de se relacionar brota o cuidado com o próximo e a valorização da vida comunitária. O presbítero é chamado a traduzir esse amor em gestos concretos de cooperação, partilha e misericórdia, tornando-se sinal da ternura de Deus nas relações humanas e pastorais.

Enraizado na comunhão eclesial, o presbítero, pela unção do Sacramento da Ordem, participa do tríplice múnus de Cristo — ensinar, santificar e governar — e, assim, é confirmado na espiritualidade trinitária de serviço e comunhão, configurando-se ao Bom Pastor pela caridade pastoral.

O presbítero, mistagogo

Participante do sacerdócio régio de Cristo, o presbítero é vocacionado à santidade e chamado a ser vértice do diálogo entre o Mistério e o mundo. É, por excelência, mistagogo, aquele que conduz o povo à experiência do mistério da salvação, introduzindo os fiéis na vida divina por meio da Palavra e dos sacramentos.

Cristo, sumo e eterno sacerdote, continua a estar presente na Igreja por meio do ministério ordenado dos bispos e presbíteros, pelos quais prega, santifica e guia o seu povo na peregrinação para o Reino eterno (Presbyterorum Ordinis, 5).

O presbítero mistagogo cultiva a dimensão contemplativa da vida, alimentando-se da meditação, da escuta da Palavra, do silêncio orante e da celebração dos sacramentos. Essa mística pastoral o torna capaz de compreender e dialogar com as diversas culturas, linguagens e realidades humanas, conduzindo-as com amor à intimidade com Deus.

Sua missão mistagógica consiste em tornar Deus compreensível e crível neste tempo, revelando a misericórdia como centro e fonte de toda a ação pastoral (Misericordiae Vultus, 15). Assim, o presbítero é sinal vivo do amor divino e faz da misericórdia o eixo da vida e da missão da Igreja, tornando-se, como o Mestre, presença terna e transformadora no meio do Povo de Deus.

Referências Documentais

  • Concílio Vaticano II, Presbyterorum Ordinis (Decreto sobre o ministério e a vida dos presbíteros), 1965.

  • Concílio Vaticano II, Lumen Gentium (Constituição Dogmática sobre a Igreja), 1964.

  • São João Paulo II, Pastores Dabo Vobis (Exortação Apostólica sobre a formação dos sacerdotes), 1992.

  • Congregação para o Clero, Ratio Fundamentalis Institutionis SacerdotalisO Dom da Vocação Presbiteral, 2016.

  • Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Diretrizes para a Formação dos Presbíteros na Igreja no Brasil, Documento 110, 2019.

  • CNBB, Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil, Documento 93, 2001.

  • Papa Francisco, Evangelii Gaudium (Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual), 2013.

  • Papa Francisco, Laudato Si’ (Carta Encíclica sobre o cuidado da casa comum), 2015.

  • Papa Francisco, Misericordiae Vultus (Bula de proclamação do Jubileu da Misericórdia), 2015.

  • Arquidiocese de Belo Horizonte, Diretrizes Arquidiocesanas para o Ministério Presbiteral e o Diaconato Permanente, 2020.

  • Arquidiocese de Belo Horizonte, O Dom da Vocação Presbiteral: Reflexões e Caminhos Formativos, Escola de Formação Arquidiocesana, 2022.