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Identidade, espiritualidade e missão do padre diocesano

A educação na formação presbiteral inicial ilumina-se pela clareza e afetuosa acolhida do sentido teológico da identidade, espiritualidade e missão do ministério presbiteral, compreendendo, à luz do Vaticano II, que o sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio comum dos fiéis. Por isso, o sacerdote não é um delegado ou um funcionário na comunidade eclesial; é um verdadeiro dom para ela, pela unção do Espírito Santo e pela união com Cristo Mestre Bom Pastor. Cimentado nessa identidade, o presbítero, homem de oração, é desafiado existencial e quotidianamente a ter uma vida espiritual, vivida autenticamente no dom do celibato, intensa, fundada na caridade pastoral, nutrida pela experiência pessoal com Deus e na comunhão com os irmãos e irmãs, na Igreja e na sociedade. O padre, à imagem do Bom Pastor, é chamado a ser homem de misericórdia e compaixão, próximo do povo e servidor de todos, particularmente dos pobres e sofredores, por uma ação missionária sustentada pelo ardor de quem é verdadeiro discípulo missionário, por ser apaixonado por Jesus Cristo.

O Presbítero: dom a serviço da Igreja

Ao percorrer o caminho da educação para a formação presbiteral inicial, uma importante pergunta surge no horizonte desse processo: quem é o presbítero que a Igreja Particular de Belo Horizonte espera como dom feliz e generoso para o exercício desse ministério? A resposta favorecerá a compreensão acerca da identidade, espiritualidade e missão do presbítero, conforme o Decreto Presbyterorum Ordinis do Concilio Vaticano II sobre o ministério e a vida dos presbíteros, e as Diretrizes para a formação dos presbíteros da Igreja no Brasil (CNBB/93). É necessário que o candidato ao ministério presbiteral tenha clareza sobre essa identidade, espiritualidade e missão.

A graça da Ordenação Sacerdotal consagra o padre/presbítero para a missão de “gerar, nutrir, educar, organizar e levar à plenitude uma comunidade do Povo de Deus” (Doc. 93 CNBB 61). Uma vez que participa do sacerdócio de Cristo – único e eterno mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5) –, o presbítero é sacerdote e se “torna um dom sagrado de Deus para o seu povo” (Doc. 93 CNBB 63). Sendo “representação sacramental de Jesus Cristo” (PDV 15) o presbítero-padre-sacerdote oferece sacrifícios pelo povo.

Configurado a Cristo Bom Pastor, como aquele que acolhe, cuida e guia o Povo de Deus (Doc. 93 CNBB 68), o presbítero-padre-sacerdote-pastor deve conhecer, de modo lúcido e sempre atualizado, a realidade em que está inserido para melhor exercer o pastoreio a serviço da rede de comunidades, fiel à tríplice dimensão identitária como discípulo-missionário, especialista em relacionamento e experimentado mistagogo, na tarefa primeira de conduzir o Povo de Deus na Igreja pelos caminhos de uma vivência mística e comprometida da fé. O presbítero também é corresponsável, como verdadeiro guardião, com a cooperação de toda a comunidade eclesial, no zelo pelo patrimônio sacro, religioso e cultural, material e imaterial da fé, para fazer crescer o tesouro da fé cristã católica.

O presbítero discípulo-missionário

O discípulo-missionário é vocacionado ao seguimento de Jesus Cristo, por uma experiência autêntica de encontro pessoal com o Ressuscitado, assemelhando-se ao Mestre e amorosamente obediente à sua Palavra. O presbítero discípulo-missionário é, portanto, um homem da Palavra e de palavra para ser Palavra encarnada. Íntimo da Palavra, por sua escuta e meditação diária, o presbítero discípulo-missionário deve ser exímio catequista e guardião dos ensinamentos dos apóstolos, ensinando com fidelidade a Doutrina da fé, na exatidão de sua formulação e, acima de tudo, pelo testemunho. Como assíduo ouvinte d’Ela, seja apaixonado anunciador da Boa-Nova e, na sua missão, encontre o sentido mesmo de sua realização pessoal, servindo com alegria o Senhor, por uma total e graciosa disponibilidade e proximidade junto ao Povo de Deus, como “Igreja em saída”, “em direção aos outros para chegar às periferias humanas” (EG, 46).

A fonte inspiradora para tornar realidade o jeito de ser presbítero tem na contemplação do rosto de Jesus, Bom Pastor e Mestre, a sua inspiração determinante, particularmente naquela hora em que ele “levou até o extremo o amor pelos seus”, permitindo que Ele nos lave os pés, dando-nos o exemplo, para que tenhamos parte com Ele. São os traços característicos de Cristo Bom Pastor que inspiram sempre a missão: caridade, conhecimento do rebanho, solicitude por todos, ação misericordiosa pelos pobres, peregrinos e indigentes, e busca das ovelhas perdidas.

O presbítero é discípulo missionário na medida em que conduz o povo de Deus, como servidor, pela pregação da Palavra de Deus (2Tm 4,2), com a convicção amorosa de ouvinte, portador de sua força interpelante e transformadora de vidas e da vida na sociedade, anunciador da esperança, como profecia e testemunho, pelo dever de infundir confiança e proclamar as razões da esperança cristã, sustentado pela santidade de vida.

O presbítero, especialista em relacionamento

O presbítero discípulo-missionário é ser de relação. Essa dimensão fundamental vincula-se ao sentido mesmo do próprio ministério. Do relacionamento fraterno e alegre que se estabelece brotará a promoção vocacional que anima e incentiva outros a também seguirem o mesmo caminho de intimidade e fidelidade radical a Jesus Cristo, na alegria do Evangelho.

Fundamental do ser especialista no relacionamento é a comunhão sacramental e afetuosa com o bispo por efetiva e fecunda animação missionária das comunidades de fé. Cristo é o ícone original do Pai e a manifestação de sua presença misericordiosa entre os homens. “O Bispo, agindo em lugar e nome de Cristo, torna-se, na Igreja a ele confiada, sinal vivo do Senhor Jesus, Pastor e Esposo, Mestre e Pontífice da Igreja” (PG7), “cum cooperatione presbiterii”, por verdadeira “communio sacramentalis”, sustento e fecundidade da missão sacramental que o Bispo confia ao sacerdote. Essa comunhão sacramental há de ser também afetiva e efetiva, na cooperação fraterna com os outros irmãos presbíteros, com todos os outros ministros e servidores na Igreja, com os membros todos do Povo de Deus, com os construtores e formadores de opinião na sociedade, com todos os cidadãos e cidadãs e na solicitude para com toda a Igreja.

O discípulo-missionário chamado ao serviço no ministério sacerdotal é promotor e anunciador da misericórdia e da paz, é ministro da reconciliação, vive e comunica a vida nova em Cristo, defende a dignidade humana e o “cuidado com a casa comum” e valoriza as potencialidades humanas que se revelam na cultura.

Desdobram-se da arte de relacionar o respeito e o cuidado para com nossos irmãos e irmãs, valorizando e potencializando o vínculo fraterno e a vida comunitária. Nesse círculo de relações que se estabelecem é muito importante que tais condutas sejam traduzidas em gestos concretos e quotidianos de cooperação e partilha, solicitude e misericórdia.

Da experiência pessoal com Jesus Cristo, em comunidade, na intimidade com a Palavra e na partilha da Fração do Pão, o ministro, pela unção do Sacramento da Ordem, se torna partícipe do múnus sacerdotal do Senhor. Desse modo ele é confirmado na espiritualidade trinitária de serviço e de comunhão, no caminho solidário e ecumênico, configurando-se ao Bom Pastor para o exercício da caridade pastoral.

O presbítero, mistagogo

O discípulo missionário que participa do sacerdócio régio de Nosso Senhor é vocacionado à santidade, e por sua consagração torna-se vértice do diálogo entre o Mundo e o Mistério. O presbítero é um mistagogo, por excelência e por dever de missão, possibilitando ao seu povo, pelos sacramentos, a inserção na rede salvífica da graça de Deus.

O Senhor Jesus, embora sentado à direita de Deus Pai, continua a estar presente no meio dos crentes, por meio do Bispo e dos seus presbíteros que o assistem, por meio dos quais Ele prega a Palavra de Deus, administra os Sacramentos, e ao mesmo tempo guia o povo do Novo Testamento na sua peregrinação para a Bem-aventurança eterna, conscientes de que esta é a tarefa fundamental de sua missão.

O presbítero mistagogo alimenta sua condição mística pelo exercício permanente da meditação, contemplação e silêncio, escuta da Palavra e celebração dos sacramentos, tornando-se íntimo no diálogo com Deus, capacitado e facilitador no entendimento das diferentes culturas e diversificadas linguagens, amorosamente conduzindo homens e mulheres à intimidade com Deus que transforma e qualifica suas vidas.

A mistagogia no ministério do presbítero é o exercício e o testemunho da misericórdia para atendimento da exigência de falar de Deus aos homens deste tempo de maneira mais compreensível e credível. Pois mistagogo é aquele que leva as pessoas a compreenderem que Deus é misericordioso e compassivo, assimilando e traduzindo essa lição em cada gesto e em cada palavra nas lidas de cada dia. O presbítero mistagogo, a exemplo de Jesus, que recebeu do Pai a missão de revelar a plenitude do amor divino, é aquele que na Igreja faz da misericórdia o sustento da vida eclesial e permeia a ação pastoral da ternura de Deus.