Em bonita carta publicada aos jovens futuros sacerdotes, o Papa Francisco encoraja a leitura de romances e ainda revela seu gosto pelos artistas trágicos. A carta foi publicada no último domingo, 4 de agosto, quando celebramos o Dia do Padre. No texto, o Pontífice recorda que os livros abrem novos espaços interiores, enriquecem, ajudam a enfrentar a vida e a compreender os outros: “Como podemos falar ao coração dos homens se ignoramos, relegamos ou não valorizamos ‘aquelas palavras’ com que queriam expressar e, por que não, revelar o drama da sua própria vida e sentimento através de romances e poemas?”
Na carta, pontuada por referências a escritores e poetas como C.S. Lewis, Marcel Proust, T. S. Eliot e Jorge Luis Borges, o Papa Francisco destacou “a importância da leitura de romances e poemas no caminho do amadurecimento pessoal”, importante não só para quem ingressa no sacerdócio, mas para todos os cristãos. Observando que o apóstolo Paulo era um grande leitor, o Santo Padre recordou que “encontrar um bom livro pode ser como um oásis que nos afasta de outras atividades que não nos fazem bem”, acrescentando ainda: “A leitura pode abrir em nós novos espaços de internalização que nos impedem de nos fechar naquelas ideias obsessivas anômalas que inevitavelmente nos perseguem.”
Enfrentar a tempestade
Um bom livro, observou o Papa, nos ajuda a enfrentar a tempestade, até conseguirmos ter um pouco mais de serenidade. Assim, o Santo Padre lamentou o fato de a literatura ainda não ser considerada essencial na formação de sacerdotes, com espaço adequado nos seminários. O Papa Francisco recordou ter ensinado literatura no ensino médio, em uma escola jesuíta, quando tinha 28 anos, e de ter encontrado resistência por parte de alunos que não queriam ler determinadas obras. Lembrando que mesmo os textos difíceis ou enfadonhos têm valor, o Papa reforçou que as pessoas deveriam abordar a leitura com “a mente aberta e disposta a ser surpreendida”: “Eu, por exemplo, adoro artistas trágicos, porque todos podemos sentir suas obras como nossas, como expressão de nossos próprios dramas. Chorando pelo destino dos personagens, choramos no fundo por nós mesmos e pelo nosso próprio vazio, nossas próprias deficiências e nossa própria solidão”, sublinhou.
A humanidade de cada um
O Papa Francisco meditou ainda sobre a humanidade presente nas obras literárias: “Ver a vida através dos olhos de quem escreve obras literárias leva a maior perspectiva de humanidade. Submergimos na existência concreta e interior do verdureiro, da prostituta, da criança que cresce sem os pais, da mulher do pedreiro ou da idosa que ainda acredita que encontrará o seu príncipe encantado”, enumerou. “Talvez, durante a leitura, daremos conselhos aos personagens que mais tarde nos serão úteis”, sublinhou o Santo Padre.