“Nada pode ser mais importante que a vida” – afirma o guardião da Serra da Piedade, Zacarias Profeta.
O senhor Zacarias Profeta aprendeu muitos segredos da natureza que envolve a Serra da Piedade com uma pessoa muito especial: o frei Rosário Joffily. O religioso dedicou a maior parte de sua vida à preservação do Santuário da Padroeira de Minas e à defesa das belezas naturais que integram um bioma com características raras, reunindo Mata Atlântica, Cerrado e Campos Rupestres, além de inúmeras nascentes.
“Água é vida. Por isso, deve ser preservada, com toda sua pureza”. Esse é um dos ensinamentos de Frei Rosário mais presentes na memória e no dia a dia do senhor Zacarias. Motivo também de gratidão para quem hoje tem água de boa qualidade em casa. “As nascentes que ficam no terreno adquirido com muito esforço por Frei Rosário, e em seus arredores, são de grande importância” – explica o guardião da Serra da Piedade, lembrando que essa era uma das preocupações do Frei, alguém capaz de enxergar muito além de seu tempo. “Preservar a natureza é também cuidar de quem vive na cidade, e não sei o que seria dessas nascentes sem o trabalho de proteção feito pelo Santuário Nossa Senhora da Piedade, que começou muito tempo atrás”.
Tudo o que aprendeu com o religioso, Zacarias Profeta procura ensinar para os filhos: “Eles vão crescendo e aprendendo, vendo a gente trabalhar e cuidar do que Deus criou. O melhor que a gente faz é conscientizar os que passam por aqui sobre a importância da preservação, que nada pode ser mais importante que a vida”. E quem mora na região sabe que precisa da natureza. A maioria quer ajudar”.
Diariamente, o guardião da Serra da Piedade se levanta bem cedo e do alto do Santuário da Padroeira de Minas observa em 360 graus as matas e montanhas. “É preciso estar sempre atento, ver se não há sinal de fumaça, de incêndio florestal, e agir rápido” – observa. Nesta época do ano, a preocupação é fazer a limpeza dos aceros definitivos – trilhas de terra que têm o objetivo de impedir a propagação do fogo- no leste da Serra da Piedade, onde os incêndios costumam ser mais violentos. “O vento leste propaga as chamas com rapidez e se a gente não der conta de chegar antes do fogo se alastrar, o estrago é muito grande. No ano passado, por exemplo, graças a Deus, conseguimos apagar o fogo logo que começou, com muita dificuldade, mas foi possível evitar um incêndio de proporções maiores. E este ano, já estamos de prontidão”.
Zacarias Profeta chegou ao Santuário Nossa Senhora da Piedade em 1977 para trabalhar com Frei Rosário em algumas obras de construção e acabou se afeiçoando ao lugar, onde criou os filhos, hoje quase todos adultos. Com os dois filhos mais novos e a esposa, dona Aparecida, mora em uma casa, um pouco antes da reserva, de onde acompanha todo o movimento que, segundo ele, aumentou bastante desde o início da mineração no local. “Além do vai-vem dos caminhões, o barulho incomoda durante as 24 horas do dia. E o pior que prejudica os animais. A gente não vê mais os macacos, os barbados, e muitos passarinhos desapareceram daqui. Mas ainda tem porco do mato, onça e outros bichos. É preciso cuidar, senão o próprio homem destrói a natureza, o fogo consome as matas, os rios e as nascentes secam. Ninguém ganha com isso. Por isso, cuido de tudo aqui mais do que da minha própria casa. Todos nós, um dia, vamos passar, mas o Santuário vai continuar” – afirma o guardião da Serra da Piedade.