Santuário Arquidiocesano

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[Artigo] A mistagogia na ação evangelizadora – Neuza Silveira

A mistagogia deve estar sempre ligada à revelação e percorrer o caminho da Igreja na prática e na experiência permitindo se aproximar cada vez mais do mistério divino, um encontro definitivo de toda a criação em Deus. O teólogo K. Hahner, em sintonia com a experiência da Igreja primitiva, nos afirma que a mistagogia deve estar presente em todo o processo de evangelização. É ela que orienta para que a evangelização não se detenha apenas na doutrinação, no ensino que parece vir de fora, daquele que fala e os outros só escutam. É necessário criar relações entre o pregador e o ouvinte, possibilitar diálogos.

Através da mistagogia tem-se a compreensão da ação evangelizadora, pois é ela que permite vislumbrar o mistério da fé, por meio de experiências pessoais vividas em meio a uma comunidade, partilhas efetuadas, meditação da Palavra, oração e diálogo com Deus.

A vivência na comunidade
A convivência com membros e grupos da comunidade é fator predominante para a vida do iniciado que quer continuar fazendo a experiência mistagógica. É na vida de comunidade, realizando a prática dos costumes evangélicos que se vive a conversão á fé cristã, pratica a educação à oração, (lembrando sempre que a boca fala daquilo que o coração está cheio, conforme Mt 13,34), faz experiências penitenciais, torna a caridade atuante para com o próximo, e assim, dá testemunho cristão. Tudo isso acontece quando o catequista, ao realizar sua ação catequética, não se esquece de que o centro da experiência é: Jesus cristo, o filho de Deus que se encarnou e deu a sua vida por nós.

Falar de mistagogia é falar da vida da comunidade eclesial, em sua dimensão espiritual, litúrgica, pastoral, contemplativa e escatológica. Assim, o catequista, ao trabalhar a Iniciação junto aos seus catequizandos ou catecúmenos, não está apenas ajudando-os a adquirir um conhecimento, mas mergulhar numa vivência especial, que faz a pessoa passar a ser (não apenas saber) algo que atinge todos os aspectos de sua vida. É preciso que o conhecimento que adquire se transforme em experiência de fé que leve a um agir coerente. Sem uma ação bem fundamentada nos critérios do agir do Cristo, a fé se torna estéril.

A busca constante de tornar a fé mais coerente com a vida no dia a dia, e nas diferentes dimensões, nos remetem também à liturgia. Faz-se necessário que os gestos litúrgicos conduzem para um compromisso de caridade e para uma contínua conversão. A liturgia pode oferecer muito mais do que pedimos a ela. Nós encontramos mais do que procuramos. Hoje o ser humano não pode ser mais o destinatário passivo de nossas liturgias, mas a matéria com que elas são feitas. Uma liturgia em saída, para uma igreja em saída. Uma liturgia que leva o ser humano à continuação do Evangelho.

Na ação catequética com inspiração catecumenal, buscando orientações no RICA, Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, nele encontramos no n. 48 uma função importante de atuação litúrgica dos catequistas como parte ativa nos ritos, para o progresso dos catecúmenos e ou catequizandos e o desenvolvimento da comunidade.

Segundo o RICA os catequistas tem forte atuação litúrgica no caminho catecumenal:
• Segundo os n. 106-108, os catequistas podem presidir as celebrações da Palavra de Deus.
• Quando estes são presididos pelos ministros ordenados, os catequistas terão sempre que possível parte ativa nos ritos (RICA 48).
• Fazem orações, pedindo pelos catecúmenos e ou catequizandos e invocam as bênçãos de Deus sobre eles. Conforme ainda este ritual, com aprovação do Bispo, realizam os exorcismos (RICA 44 e 109).

Embora a dimensão litúrgica tenha muito importância, não se pode esquecer que o catequista deve dar testemunho de todas as dimensões da vida pessoal e eclesial.

Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.