Santuário Arquidiocesano

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[Artigo] A comunidade hoje a exemplo da comunidade de Mateus – Neuza Silveira de Souza

Continuamos a nossa caminhada catequética inseridos no projeto da VI Assembleia do Povo de Deus. Em sintonia com a nossa Igreja, vamos refletir um pouco sobre o sentido de ser Igreja, tendo como fundamento a experiência da comunidade mateana. Uma Igreja que quer caminhar com o pé no chão, e para isto precisa estar atenta aos acontecimentos ao seu redor.
A Igreja de Jesus que Mateus apresenta, ela está centrada no discipulado daqueles e daquelas que são chamados a viver no tempo presente os ensinamentos do Mestre como se estivessem vivendo os tempos finais, do juízo.
Para Mateus não basta simplesmente a fé, é preciso coerência de vida. “Não é aquele que diz Senhor, Senhor, que entrará no Reino, mas quem faz a vontade do Pai” (Mt 7,21).
A mensagem de Jesus é o Reino que Nele mesmo se torna presente e chega até nós. Embora seja inseparável da Igreja, o Reino transcende os limites visíveis dela; ele se realiza onde Deus está reinando pela graça e pelo amor, estabelecendo comunhão, mesmo no coração de quem se acha fora do ambiente perceptível da Igreja, conforme nos diz as orientações da catequese renovada (CR, 204).

A Igreja no Evangelho de Mateus

A realidade da Igreja, na comunidade mateana se apresenta de forma complexa na pluralidade de suas imagens: ora se apresenta como rede lançada ao mar que acolhe uma diversidade de peixes (Mt 13,47-50); ora se assemelha ao campo de um pai de família, que plantou nele a boa semente e o inimigo foi lá e semeou o joio no mesmo campo. Ambas cresceram juntas e só no final se realiza a colheita (Mt 13, 24-43), ora é figurada com um grande banquete no qual nem todos se encontram vestidos adequadamente (Mt 22.1-14). Quando a comunidade se encontra nessa fragilidade, uma certeza se tem: Jesus assegura a sua presença (Mt 18,20), para que as mesmas possam realizar a sua missão de ensinar e observar tudo o que ele ensinou.

Jesus reafirma sua presença “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). Ajuda as comunidades a saírem dos conflitos, a refazerem o caminho de aprofundamento da fé no Senhor que conduz a história. Aqui, Jesus é aquele que propõe a vida comunitária como uma das maneiras privilegiadas de manter firme sua memória-presença na caminhada do povo fiel. Jesus tem como objetivo mostrar o que acontecerá com o Reino dos céus.
No capítulo 13 Mateus apresenta um discurso onde Jesus, através de sete parábolas, apresenta a natureza surpreendente do Reino do céu.
Na parábola do joio e do trigo, Mateus tenta explicar como no Reino e na Igreja coexistem filhos e filhas do Reino e filhos e filhas da iniquidade. Há que se esperar pacientemente o fim do mundo quando virá o Filho do Homem para separar uns dos outros. É o Reino do “já e ainda não”, ou seja, implantado o Reino dos céus, todos são convidados a participar. E, na caminhada, vão aprimorando o jeito de Jesus. Este poder de compreensão é dom de Deus dado à comunidade dos pobres e pequenos que assumem no dia-a-dia a prática de Jesus expressa nas Bem-aventuranças (Mt 5,3-12). Convivendo juntos, só no final dos tempos, se necessário haverá separação.
Para Mateus, a colheita abundante provém da vida dos discípulos e discípulas que partilham do caminho de Jesus e assimilam a proposta do Reino.

E como caminham as nossas comunidades hoje?

O Reino dos céus está ai com toda a sua potencialidade. As comunidades não podem desencorajar-se diante das dificuldades e diversidades. Todo aquele que se constitui discípulo e discípula de Jesus são desafiados pelo Mestre a compreender a profundidade da vontade do Pai, e o ápice do caminho do aprendizado do amor será. Este caminho será, sem dúvida, a participação no mistério da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Na construção do Reino é preciso ter paciência e esperar a hora certa para fazer o discernimento adequado.

Grande é a missão da comunidade

Assumir o projeto de Jesus de construir o Reino de Justiça e Paz, na fraternidade e no amor, está se tornando cada vez mais difícil.
A cada tempo precisamos retomar. Caminhar sempre com a Igreja, nos moldes do Papa Francisco: uma “Igreja em saída para as periferias sociais e existenciais.” O desejo do Papa Francisco de realizar uma Igreja que seja sinodal. Que se coloca aberta para a escuta. O objetivo é escutar a todos os povos, não só os católicos, mas a sociedade por inteiro. Escutar para melhor servir. Uma escuta para melhor exercitar a nossa missão, na Igreja. Esse tempo se apresenta como o grande momento das comunidades. E a exemplo da comunidade de Mateus, sejamos também perseverantes na certeza de que somos amados por Deus. E ele que é Pai, cuida de todos e está sempre de braços abertos para acolher aqueles que querem dialogar, conhecê-lo e expressar seus desejos para o bem viver. Com seu amor ele desperta a vocação de cada um e o ajuda a desenvolver seu dom.

Neuza Silveira de Souza – Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.