Santuário Arquidiocesano

Ermida da Padroeira de Minas - Basílica da Piedade

08h

15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h
09h
15h

Basílica Estadual das Romarias

Domingo
09h30
11h
16h30

Artigo de dom walmor

Você está em:

Horizonte da Igreja

A Igreja Católica tem sempre um horizonte amplo e luminoso para nortear o seu caminho: o Evangelho de Jesus Cristo, seu mestre e senhor. O Evangelho desdobra-se em ensinamentos e doutrinas que fecundam a conduta dos discípulos e discípulas de Jesus, em lugares e culturas diferentes, com incidência na vida daqueles que se encontram com Cristo. Os parâmetros e os princípios do Evangelho se expressam, justamente, nas aptidões e carismas dos discípulos do Mestre, por meio de uma alegria que permanentemente se renova – importante força para curar o mundo de um grande mal: uma tristeza profunda, que se busca remediar, equivocadamente, por meio do consumo e da hegemonia do dinheiro. Consequentemente, a vida se fecha nos limites dos interesses egoístas, com a perda do entusiasmo para se fazer o bem. Os pobres tornam-se, cada vez mais, vítimas de indiferenças e se desconsidera o compromisso de se promover vida digna para todos. Neste contexto, a tarefa missionária da Igreja é especialmente essencial: promover o encontro pessoal com Jesus Cristo, caminho para se efetivar uma vida nova, cultivando a profética audácia de se investir na solidariedade e na fraternidade universal.

A alegria do Evangelho é fonte inesgotável de esperança. E o encontro com Jesus é o caminho para essa fonte. Por isso mesmo, é preciso multiplicar, em cada coração, a abertura para se aproximar de Jesus. A Igreja tem a tarefa primordial de promover o encontro de todos com o Mestre, ninguém pode se sentir excluído. A cada pessoa se deve proporcionar a experiência e o sabor da misericórdia de Deus, sem discriminações ou preconceitos. Neste horizonte, reconheça-se que o cristão tem identidade pascal, isto é, modela-se pela alegria de poder seguir Jesus. Uma alegria diferente, muito diferente daquela gestada pela técnica, de vários modos e com força de sedução, de atratividade. A alegria irradiada do Evangelho converte-se em força espiritual com capacidade de sustentar as muitas labutas da vida. Genuinamente revela-se na alegria que brota no coração dos pobres. Uma alegria tão intensa que transborda – quem a experimenta busca partilhá-la com o semelhante, assume o compromisso de testemunhar a verdade e passa a priorizar o bem de cada irmão e irmã.

No horizonte amplo e luminoso do Evangelho, compreende-se que a vida vivida na doação se fortalece. Um antídoto ao comodismo, ao isolamento e à maledicência. E quem integra a Igreja deve partilhar o compromisso evangelizador – anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo para proporcionar, a todos, a alegria que vem da fé. Trata-se do primeiro compromisso da Igreja: renovar o frescor do Evangelho de Jesus Cristo por um anúncio com força de atração e de convencimento. Esse anúncio não é tarefa individual, mas vivido na comunidade de fé, sobre os pilares da comunhão e da participação, fontes perenes para o vigor missionário.  Um chamado à nova evangelização para uma autêntica e frutuosa transmissão da fé.   A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração, isto é, pela força da autenticidade do testemunho de seus evangelizadores, por uma conduta exemplar, capaz de conquistar autoridade moral e espiritual. No mundo contemporâneo permanece o desafio de ser uma “Igreja em saída”, o que vai além da eficiência organizacional. “Igreja em saída” é a Igreja cada vez mais próxima de todos, para acompanhar, ajudar a frutificar e a celebrar a existência de cada um. É especialmente dever da Igreja testemunhar a misericórdia que acolhe, cura e reconcilia, reconhecendo que o próximo é o mais importante.

Ser comunidade missionária significa ir ao encontro do semelhante, encurtando distâncias, abaixando-se, até a humilhação se for necessário, para buscar curar a carne sofredora do povo. Significa cuidar do “trigo” e não perder a paz em razão do “joio”. Há, pois, uma constante necessidade de conversão eclesial, o que exige cultivar abertura para uma permanente reforma, para não se correr o risco de emperrar, viver retrocessos. A Igreja é permanentemente peregrina, condição que a convoca a rever sempre funcionamentos e estruturas.  Por isso mesmo, a comunidade eclesial aceita o desafio de uma renovação permanente e inadiável, não permitindo caducidades distantes da autenticidade do Evangelho. Não se pode privilegiar caricaturas e disputas pelo poder, emolduradas por mentiras e fofocas. A renovação da Igreja está encarnada em limitações humanas que podem ser vencidas voltando-se ao núcleo do Evangelho de Jesus, superando a alimentação de moralismos e da rigidez que são obras demoníacas.

O Evangelho ensina a misericórdia e a paciência, a priorizar o bem de cada pessoa. Assim, a Igreja é mãe de coração aberto, portas abertas a todos, sem triunfalismos ou discriminações. Dignos de privilégios são os pobres, os doentes, os desprezados e os esquecidos, respeitando o indissolúvel vínculo entre a fé cristã e o compromisso com os que sofrem.  Conhece-se a recomendação que deve continuar a ecoar e a definir a conduta eclesial: é preferível uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento, na comodidade de agarrar-se às seguranças. Também não se deve ser Igreja emaranhada nas obsessões, nos procedimentos. Mais que o medo de falhar, a comunidade eclesial deve dedicar atenção ao risco de encerrar-se nas estruturas que dão falsa proteção. O desafio é reavivar sempre a dimensão missionária, derrubando muros, construindo pontes.

A Igreja é humilde detentora de um arcabouço moral e relacional que lhe possibilita intermediar conflitos, defender os pobres e ser voz profética promotora da paz. Não se pode fugir do compromisso inadiável de renovação eclesial, criando condições efetivas para evangelizar no mundo contemporâneo. Resta seguir em frente a partir do coração do Evangelho - o horizonte sempre novo e interpelante da Igreja, compromisso inadiável e insubstituível de todos os cristãos, sinal incontestável de fidelidade às lições do Mestre.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte